josé da silva carvalho - DSpace CEU

DOC. CDXXVII
Carta de Passos [Manuel] a Silva Carvalho
Pedindo-lhe que aguarde o effeito das medidas conciliadoras do governo,
antes de se dioidir a emigrar, ou que pelo menos deixe ficar
a familia.
9 de novembro de 183C.
José. — Recebi a tua carta. No estado de agitaç.ao em que se
devem ainda achar os espiritos, parecem-me prudentes todas as cau­
telas. Mas tu deves estar certo nao só de que o governo niio per segué
ninguem, nem consentirá em perseguiçoes, mas que tomará todas as
medidas para tranquillisar os espiritos e chamar a paz e a concordia
entre os membros da familia portugueza, sobretudo entre os soldados
veteranos da causa constitucional. O governo dá passaportes a todos
que os quizerem e licença aos empregados públicos para sahirem do
reino. Mas eu hei de fazer todos os esforços para evitar desordens
e restabelecer a tranquillidade.
Parecia-me prudente que tu nao levasses a familia. Eu passei
ordem ao administrador geral para que fosse visitar as familias das
pessoas que estao a bordo e que lhes offereça todo o apoio da parte
do governo.
OVieira de Castro passa a licença a teu irmao Joáo. Deves estar
certo de que eu estou disposto a fazer tudo o que devo, como ministro
e como teu verdadeiro amigo.
Darás muitos abraços áo meu querido duque da Terceira. O que
eu te digo a ti, digo a elle e aos mais amigos a quem nossas desgra-
çadas dissençSes políticas collocam em bem difficeis circumstancias.
O BrandJSo dirá o que eu pensó. O espirito publico melhora a todos
os momentos. Em nome de S. M. eu tenho pedido paz e tranquilli­
dade. Vos deveis esperar pelo resultado das medidas do governo, sobre­
tudo nao deveis levar a familia.
Se eu nao tiver força para conservar o Reino em paz e evitar
vinganças, deixo de ser ministro, porque eu nao quero que o meu
nome se ligue a nenhuma idea de horror e de sangue.
Meu pobre Carvalho! Medita e eré que eu farei tudo o que devo
aos meus principios—á minha honra.
Adeus; teu do coracáo.=Pas808 (Manuel).
P. S.—Abraços do José.