josé da silva carvalho - DSpace CEU

Demonstrou-se entáo que o governo procederá acertadamente em reunir as
torcas em volta de Santarem, depois da aecáo de Perúes. Diz Napier que nos
primeiros dias de fevereiro levara a muito custo o governo a adoptar a idea de
urna excursáo de 3:000 homens ao Alemtejo, sob o commando do duque da
Terceira. Porém, os movimentos dos realistas na margem esquerda do Tejo e a
sua concentracáo subsequente em Santarem, que precedeu a batalha de Ahnoster,
devem ter demovido o governo de tal proposito.
A accáo de Pernes foi a 30 de Janeiro de 1834; a de Ahnoster em 18 de
fevereiro. Depois de Ahnoster, desenha-se nítidamente o plano definitivo de
ataque, cujo merecimento cabe inteiramente ao governo.
«Em marco e abril (diz-nos Silva CarvalJio), andavam Torres e S. Vicente
na rectaguarda do inimigo, quando havia certeza do tratado» (Doc. ccxci). Era,
pois, a certeza do auxilio hespanhol, promettido em Janeiro por Martínez de la
Rosa, a eondiçao que subordinava agora os planos militares do governo e lhe
facilitaría a realisacáo do systema que sempre lhe parecen preferivel, e que
consistía em guerrear o inimigo simultáneamente no norte e no sul, sem enflaquecer
o céreo de Santarem.
A margem da carta em que, a 30 de outubro, Terceira expunha a Silva
Carvalho por que motivos nao podia acceitar o commando da divisao do Porto,
escreveu Carvalho a seguinte nota: «E depois d'isto ganhou a batalha da
Asseiceira». Podemos, pois, concluir que a marcha do duque da Terceira, do norte
para o sul, representou a realisacáo de um plano original e antigo na mente do
governo. E nao se diga, como D. Antonio da Costa, que era o plano de Saldanha.
O do marcchal Saldanha era muito differente, pois consistía em caminhar do
CartaxO para o norte, enfraquecendo o sitio e desprezando o sul.
A opportttnidade das operaçoes do duque da Terceira, no norte do paiz, foi
determinada nao só pelas rázoes diplomáticas, mas tambem pela dcslocacáo de
importantes forças mignelistas para a margem esquerda do Tejo, sob o commando
do general francez Almer, intencionalmente provocada pelo governo com as
incursoes de Sá da Bandeira no Algarve e no Alemtejo, durante os últimos dias
de fevereiro e no mez de marco.
Ao passo que Terceira, munido de instrucçoes militares e civis, ia abrir a
campanha, segundo um plano certo e seguro, Napier e Sá da Bandeira faziam a
guerra á aventura, por sua conta e risco. D'isto se queixava o Imperador, chegando
a declarar que nada tinha a fazer com elles.
Sá da Bandeira fóra mandado ao Algarve, a tomar conta do commando das
forças que guarneciam aquella provincia e a operar no seu territorio, devendo
avançar pelo Alemtejo, se o pudesse fazer com segurança. Quando partiu, o
governo nao lhe poude ceder um só dos seus soldados ou marinheiros. E, pois,
claro que os destinava a operar noutro ponto, e que o fim primario da accáo de
Sá da Bandeira, no sul, era obrigar o inimigo a enflaquecer a divisao do norte e
a guarnicáo de Santarem.
A 4 de marco chega a Portugal o batalháo belga de Le Charlicr. Manda-o o
governo de reforço a Sá de Bandeira; outros reforços lhe envía durante o mez
de abril; todos de pequeña monta. Nao obstante, exalta-se a temeridade do
valente general, que num dos seus impetos de bravura se precipita contra o
inimigo, avançando pela provincia do Alemtejo mais do que devia. Os realistas
repelíem-no e veem batel-o em S. Bartholomeu de Messines, forçando os constitucionaes
a conservarem-se na defensiva, dentro d'aquelle pequeño numero de
povoaçdes do littoral do Algarve que já anteriormente guarneciam.