josé da silva carvalho - DSpace CEU

1850
Janeiro.—Dia 17.—Recebi por José Leal urna carta do conde
de Thomar para ir á cámara—era dia em que pensava se votaría a
falla do Throno.
Dia 31.—Encontrei o conde de Thomar ao largo do Conde
Barao, fui com elle ató ao Terreiro do Paco; disse-me que levava
assignado o decreto pelo qual o Prego tinha numa vida o titulo do
pae—agradeci-lhe muito o prometti-lhe ser grato e amigo. Disse-me
que o duque de Saldanha tinha ido na noite antecedente ao paco
dizer á Rainha que eu e Vargas tinhamos ido ter com elle para lhe
perguntarmos «quando punha fora o ladráo do conde de Thomar!!»
Que elle logo desmanchara a mentira; e eu disse-lhe que podia dizer
a Sua Magostado que o duque mentia. Nesse dia á noite recebi carta
do conde.
Fevereiro.—Dia 7. — Admissao do conde de Paraty na cámara,
por fallecimento de seu pae. Provava que tinha o rendimento da lei
por documentos que apresentou, nao pela contribuiçao que pagava,
porque a nSo pagava, mas por certidoes de inventarios, escripturas e
attestados de testemunhas. Isto foi combatido por Laborim e Proença,
que queriam que o rendimento fosse de bens de raiz, em terreno por­
tuguez, provado pela certidáo ou taloes do lancamento, o que Duarte
Leitáo combateu, e assim se venceu por 30 votos contra 20, e foi
o conde admittido. — Servo de exemplo.
Dia 21.—Tive urna conversa com o conde de Thomar (presente
o marquez de Fronteira), que me tornou a repetir que já me tinha
oíferecido o titulo de conde, que eu nao quizera. Eu nao quiz trocar
o meu nome por um titulo.
Negocios da China.—Em 22 de agosto de 1849 foi assassinado fora
das Portas o governador. Este governador tinha indisposto contra
elle os chinas residentes em Macau e os mesmos portuguezes, pelas
contribuiçoes que exigía.
Depois do estabelecimento do porto franco, ficou a provincia sem
rendimentos, e as despesas orara exigidas dos habitantes. Pela corres­
pondencia oíficial que eu vi, ó claro que o assassinato fura ordenado pelo
governo de Cantao: as medidas que o Conselho de governo tornou logo
foi pedir ao governador da India, Pestaña, 150 homens e um vapor,
que elle mandou; de Lisboa foram ordens para partir do Rio para lá
a corveta D. Jo&o I, a corveta Iris, surta naquelle porto, e a fragata
D. María, que estava na India. Pelas previdencias do hispo eleito de
Pekim, D. Joao da Franca Castro e Moura, que passou 17 annos dentro
do Imperio Chinez, e de quem o governo se descuidou, porque nem
ai