09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

criminosos no mundo. Mas, ah, a morte levou o padre João, e<br />

então assumi aquela paróquia, e novas atenções chegaram<br />

para perturbar o sono <strong>de</strong> minhas noites e o sossego <strong>de</strong> meus<br />

dias.<br />

Sem perceber por quê, eu sempre havia recusado a<br />

confissão dos pecados alheios. Julgava ser uma carga muito<br />

pesada guardar segredos dos outros. Minha alma, franca e<br />

ingênua, angustiava-se com o peso <strong>de</strong> mil culpas e tinha medo<br />

<strong>de</strong> aumentar a carga com os pecados dos outros. Mas a morte<br />

do padre João me obrigou a sentar no tribunal da penitência,<br />

ou melhor, da consciência humana, e então, oh, então minha<br />

vida se horrorizou.<br />

Quantas histórias tristes! Quantos <strong>de</strong>sacertos! Quantos<br />

crimes! Quanta iniquida<strong>de</strong>!<br />

Uma noite, oh, jamais esquecerei aquela noite. Eu me<br />

preparava para <strong>de</strong>scansar quando Sultão se levantou inquieto,<br />

olhou para mim atentamente, apoiou suas patas da frente no<br />

braço <strong>de</strong> minha poltrona e parecia me di- zer com seu<br />

inteligente olhar: “Não se <strong>de</strong>ite, alguém está chegando‟ Cinco<br />

minutos <strong>de</strong>pois, senti o galope <strong>de</strong> um cavalo e, após alguns<br />

instantes, o velho Miguel veio me dizer que um homem queria<br />

falar comigo.<br />

Saí a seu encontro, e Sultão o cheirou sem <strong>de</strong>monstrar o<br />

menor contentamento, e se <strong>de</strong>itou aos meus pés em atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fensiva.<br />

Parece que ainda vejo meu visitante. Era um homem <strong>de</strong><br />

meia-ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> semblante tnste e olhar sombno. Olhou para<br />

mim e disse:<br />

- <strong>Padre</strong>, estamos sozinhos?<br />

- Sim, que queres?<br />

- Quero que ouça minha confissão.<br />

E por que vens me procurar, se tens Deus?<br />

- Deus está muito longe <strong>de</strong> nós, e eu preciso ouvir uma voz<br />

mais pró- xima.<br />

- E tua consciência nada te diz?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!