09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

E, como se a natureza quisesse me ajudar, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou-se<br />

uma tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> outono, o vento recru<strong>de</strong>sceu, o furacão<br />

rugiu, e aquela mulher teve medo, tremeu <strong>de</strong> espanto, julgou<br />

ter chegado o juízo final e gritou com verda<strong>de</strong>ira angústia:<br />

Misericórdia, senhor!<br />

De quem tiveste tu misericórdia? - repliquei com imensa ira.<br />

- Sai daqui! Tanto horror me inspiras, que, se te contemplar por<br />

mais tempo, me transformarei em vingador <strong>de</strong> tuas vítimas.<br />

Não sei o que meus olhos revelaram, porque ela olhou para<br />

mim, soltou um grito aterrador e fugiu como um raio. Eu fiquei<br />

olhando por alguns instantes para a direção que havia tomado;<br />

senti uma dor muito aguda no coração e <strong>de</strong>sabei em terra.<br />

Quando recuperei os sentidos, soube por Miguel que havia<br />

passado dois dias <strong>de</strong>sacordado. As crianças, com suas<br />

carícias, quiseram me fazer <strong>de</strong>spertar, mas tudo havia sido<br />

inútil.<br />

As criancinhas voltaram e cercaram meu leito com a mais<br />

terna solicitu<strong>de</strong>. Olhei para elas com infantil alegria; mas logo<br />

recor<strong>de</strong>i o que havia acontecido, e disse: "Deixem-me, meus<br />

filhos; não sou digno <strong>de</strong> suas carícias'! As crianças me olharam<br />

e não compreen<strong>de</strong>ram. Eu repeti as palavras anteriores, e um<br />

<strong>de</strong>les disse aos outros: "Vamos dizer a Maria que o padre<br />

<strong>Germano</strong> está muito mal'! Tinha razão <strong>de</strong> sobra: meu corpo<br />

estava doente, minha alma ferida.<br />

Des<strong>de</strong> então não tive um momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, nem no<br />

túmulo <strong>de</strong>la. Às vezes, quando a menina dos cachos negros<br />

aparecia para mim, olhava- me tristemente, e eu dizia: "É<br />

verda<strong>de</strong> que já não sou digno <strong>de</strong> ti? Expulsei um pecador do<br />

templo!" A linda aparição parecia chorar, e eu, ao ver suas<br />

lágrimas, chorava como ela, e exclamava: "Desventurado!<br />

Quem sou eu para amaldiçoar? Aquela infeliz teve medo e, em<br />

vez <strong>de</strong> lhe dizer: 'Espera, espera, que a misericórdia <strong>de</strong> Deus é<br />

infinita!! eu disse: 'Sai daqui, maldita dos séculos!' Eu profanei<br />

esta velha igreja! Parece mentira! Eu que só soube amparar,<br />

por que repudiei um infeliz pecador? Por quê?" E ia para o<br />

campo sozinho, não queria que as crianças me<br />

acompanhassem porque não me sentia digno <strong>de</strong> sua<br />

companhia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!