09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

morrer, porque tu és o melhor conselheiro que já conhecemos<br />

nas horas <strong>de</strong> atribulação'!<br />

Todas essas provas <strong>de</strong> carinho me comoviam e me<br />

envergonhavam, e, por fim, querendo <strong>de</strong>scansar um pouco<br />

minha consciência, disse a eles dois dias antes <strong>de</strong> morrer:<br />

"Meus filhos, quero me confessar com vocês. Escutem-me'! E<br />

lhes contei o que havia feito com a mulher culpada, dizendo, ao<br />

terminar:<br />

Gostaria <strong>de</strong> purificar a igreja que eu profanei. Talvez o<br />

tempo se encarregue disso (e naquele instante, sem dúvida,<br />

tive espírito profético, porque alguns anos <strong>de</strong>pois o fogo<br />

<strong>de</strong>struiu o templo que maculei com minha intolerância). Por<br />

ora, peguem minha velha capa, levern-na para o meio da praça<br />

e queimem-na, pois embora tenha coberto muitos culpados<br />

com ela, neguei o abrigo a um pecador, e o manto do<br />

sacerdote que não abriga a todos os pecadores merece ser<br />

queimado e suas cinzas jogadas ao vento. Quanto ao meu<br />

corpo, não lhe imponho esse suplício porque não foi minha<br />

matéria que pecou, e sim meu espírito, que já sofre há muito<br />

tempo a tortura do remorso, fogo que queima sem consumir!<br />

Mas não pensem que meu sofrimento será eterno, porque eu<br />

me purificarei por meio <strong>de</strong> obras meritórias em minhas<br />

sucessivas encarnações.<br />

Rodolfo olhava para mim, dizendo-me com seus olhos: "Não<br />

vá, porque eu não quero!" E eu lhe dizia:<br />

Teu <strong>de</strong>sejo é inútil. Chegou o fim do prazo. Vê como eu<br />

morro, toma o exemplo. Minha hora <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira não é como eu<br />

pensava. Julguei que morreria tranqüilo, e meu mau proce<strong>de</strong>r<br />

com aquela infeliz me faz tremer. Se uma má ação tanto me<br />

faz sofrer, calcula como morrerás tu se a teus passados<br />

<strong>de</strong>sacertos acumulares novos extravios. Jura-me que não<br />

esque- cerás meus conselhos, e assim morrerei tranqüilo.<br />

Rodolfo não podia falar, mas estreitava minhas mãos em<br />

seu peito, e seus olhos me diziam: "Viva, viva por mim!" Como<br />

me faziam bem aqueles olhares! Porque, quando afastava<br />

minha vista <strong>de</strong>les, via a judia errante que corria, eu a seguia e<br />

nós dois corríamos até que eu caía <strong>de</strong>svanecido.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!