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Memórias de Padre Germano

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súplicas e ameaças, e oferecimentos, a ponto <strong>de</strong> me oferecer o<br />

capelo 3 em nome do rei, tudo foi inútil.<br />

- Há cinco anos - disse o capitão vim atrás <strong>de</strong> um criminoso<br />

que ocultastes. Mas agora tenho or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> que, se o bispo não<br />

aparecer, vós, que sois o bruxo <strong>de</strong>sta al<strong>de</strong>ia, ocupeis seu lugar.<br />

Eu ficarei aqui oito dias, moverei pedra por pedra, e repito, se o<br />

bispo não aparecer, vos levarei como refém. Escolhei.<br />

Ao ouvir essas palavras senti frio. Involuntariamente, olhei<br />

pela janela, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> via os ciprestes do cemitério. Meu coração<br />

se oprimiu e eu teria chorado como uma criança, porque<br />

afastar-me daquele túmulo era arrebatar-me a vida. Mas refleti<br />

e disse comigo: "Quem po<strong>de</strong> ser mais útil neste mundo, Lulio<br />

ou eu? Ele, porque é mais jovem, rico e po<strong>de</strong>roso, po<strong>de</strong> fazer<br />

muito bem. Seu arrependimento po<strong>de</strong> ser um manancial <strong>de</strong><br />

prosperida<strong>de</strong> e um gran<strong>de</strong> progresso para seu espírito. Na vida<br />

não se <strong>de</strong>ve ser exclusivista. O homem <strong>de</strong>ve ser apenas o<br />

instrumento do bem universal. Nada importa o sofrimento <strong>de</strong><br />

uma alma se redundar no avanço coletivo da humanida<strong>de</strong>.<br />

Devemos ser um por todos e todos por um"<br />

O capitão me olhava e disse:<br />

Vós me dais pena. Lamento tirar-vos <strong>de</strong> vossa al<strong>de</strong>ia, mas<br />

trago or<strong>de</strong>ns expressas.<br />

Que <strong>de</strong>veis cumprir, capitão.<br />

E durante oito dias procuraram Lulio, inutilmente. Porque só<br />

Miguel, Sultão e eu conhecíamos a entrada da caverna do<br />

Diabo. De modo que, não aparecendo o perseguido, eu fui em<br />

seu lugar. E quando todos os habitantes da al<strong>de</strong>ia estavam<br />

entregues ao sono, eu me <strong>de</strong>spedi <strong>de</strong> Miguel e Sultão, daquele<br />

animal admirável, cuja inteligência maravilhosa nunca po<strong>de</strong>rei<br />

esquecer. Ele, que nunca se afastava <strong>de</strong> mim; ele, que sempre<br />

velava enquanto eu dormia, compreen<strong>de</strong>u que me prestava um<br />

gran<strong>de</strong> serviço ficando com Miguel, e, uivando dolorosamente,<br />

regando minhas mãos com suas lágrimas, não <strong>de</strong>u nem um<br />

passo para me seguir; ficou imóvel no meio <strong>de</strong> meu quarto,<br />

3 Nota da editora: Capelo - chapéu utilizado pelo car<strong>de</strong>al. Em sentido<br />

figurado, estava sendo oferecido ao padre <strong>Germano</strong> pela <strong>de</strong>lação <strong>de</strong> Lulio o<br />

cargo <strong>de</strong> car<strong>de</strong>al que este ocupava.

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