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Memórias de Padre Germano

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emorso me torturou, nunca a lembrança <strong>de</strong> uma má ação<br />

cobriu minha face <strong>de</strong> rubor. Sempre olhei <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

mesmo e vi que não era culpado.<br />

Obrigado, Senhor! Meus pais terrenos me abandonaram,<br />

mas não existem órfãos, porque tu nunca abandonas teus<br />

filhos. Eles é que esquecem <strong>de</strong> ti e vivem na orfanda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>sacertos.<br />

Pobre menino! Tu trouxeste a minha memória as<br />

lembranças <strong>de</strong> meus primeiros anos; tu me fizeste consignar<br />

neste manuscrito os acontecimentos que durante muitos anos<br />

tentei afastar <strong>de</strong> minha mente. E hoje, ao contemplar-te, ao ver<br />

que outro ser entrava, como eu, na vida pela senda do<br />

infortúnio, eu me senti mais forte e disse: "Eu não fui o único<br />

amaldiçoado por seus pais. Este menino é lindo, o amor irradia<br />

<strong>de</strong> seus olhos, e <strong>de</strong> sua fronte a inteligência, e também a ele foi<br />

negado o amor<br />

maternal. Já não fui sozinho. Então, por que escon<strong>de</strong>r esses<br />

primeiros episódios <strong>de</strong> minha vida se encerram um útil<br />

ensinamento? Pois neles fica provado que o homem é gran<strong>de</strong><br />

só por si mesmo. Eu pu<strong>de</strong> me sentar no mais importante<br />

assento do mundo e, aos cinco anos, me encontrei sozinho na<br />

Terra, e sozinho do modo mais triste: pela ingratidão daqueles<br />

que me <strong>de</strong>ram o ser. Mas, em meu abandono, ao pensar,<br />

soube que havia em mim uma centelha da divinda<strong>de</strong>. Quando<br />

vi como os homens se tornavam sábios, <strong>de</strong>sejei sê-lo, e refleti:<br />

se nada possuis, pela mesma razão <strong>de</strong>ves adquirir sabedoria"<br />

Eu quis viver e vivi, quis ser livre e fui, porque minhas<br />

paixões não me dominaram. Sempre acreditei que a felicida<strong>de</strong><br />

não é um sonho, e é certíssimo que não é. Ninguém teve<br />

menos elementos que eu para ser feliz, porém, fui. Ao lado <strong>de</strong><br />

um túmulo encontrei a felicida<strong>de</strong>. O homem não é feliz porque<br />

só vê o tempo presente. Mas para aquele que acredita que o<br />

tempo não tem fim nem medidas que se chamam passado ou<br />

futuro, que pressente o infinito da vida, para ele não existem<br />

sombras. Por isso não existiram para mim, porque sempre<br />

esperei um dia sem ocaso, porque sempre ouvi vozes<br />

distantes, muito distantes, que me disseram: "A vida nunca se<br />

extingue! Tu viverás, porque tudo vive na Criação!" E diante da

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