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Memórias de Padre Germano

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paixões, e, para satisfazê-las, cometem todo tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sacertos. Faz muitos séculos que esses cegos <strong>de</strong><br />

entendimento e legisladores <strong>de</strong> sua categoria escreveram<br />

códigos que, em nome da lei, truncam as leis naturais, que são<br />

as leis divinas. Pobre, pobre humanida<strong>de</strong>!<br />

"O espírito que agora reclama nossa atenção foi um <strong>de</strong>sses<br />

cegos que tropeçaram e caíram muitas vezes. Por fim, viu a luz<br />

e reconheceu seus erros, e, se valoroso e pertinaz foi no mal,<br />

não po<strong>de</strong> ser acusado <strong>de</strong> covar<strong>de</strong> em sua expiação. Com<br />

ânimo sereno, avaliou o quadro <strong>de</strong> sua vida e viu em primeiro<br />

plano a multidão formada por suas vítimas. Mais longe, um<br />

lago imenso formado com as lágrimas <strong>de</strong> todos os que por<br />

causa <strong>de</strong>le sofreram perseguição e morte, ou <strong>de</strong>sonra e<br />

miséria. Pesou uma por uma todas as dores que sua<br />

ferocida<strong>de</strong> havia produzido; analisou todo o mal que por sua<br />

causa havia se apossado <strong>de</strong>ste mundo; compreen<strong>de</strong>u as fatais<br />

conseqüências <strong>de</strong> seu iníquo proce<strong>de</strong>r; buscou no mar, teatro<br />

<strong>de</strong> suas horrendas façanhas, todos os seus atos <strong>de</strong> barbárie;<br />

viu-se senhor dos mares, sendo o terror e o espanto <strong>de</strong> mar e<br />

terra; viu as crianças sacrificadas, as virgens violentadas, os<br />

idosos atormentados e, diante <strong>de</strong> tantos horrores, não tremeu;<br />

ao contrário, <strong>de</strong>cididamente começou a sofrer sua pena sem<br />

murmurar. Muito já pagou, mas ainda lhe resta muito a pagar.<br />

Uma das vidas em que <strong>de</strong>monstrou seu valor a toda prova foi,<br />

sem sombra <strong>de</strong> dúvida, a que vou contar.<br />

"Ele nasceu na maior miséria, cresceu em meio a todo tipo<br />

<strong>de</strong> privação, mendigou seu pão até que teve ida<strong>de</strong> para se<br />

entregar aos trabalhos mais ru<strong>de</strong>s, sendo grumete em uma<br />

galera que foi capturada nas águas da índia, no mesmo lugar<br />

on<strong>de</strong>, em outras vidas, o pirata que dizia "Todo o Universo é<br />

meu!" havia semeado o horror e a morte.<br />

"Toda a tripulação do navio capturado foi passada na faca e<br />

só perdoaram a vida do jovem grumete, que foi conduzido ao<br />

interior da índia e submetido aos mais terríveis tormentos.<br />

Viveu quarenta e cinco anos sofrendo alternadamente os<br />

horrores da água e do fogo, recebendo o dardo <strong>de</strong> flechas<br />

agudas, sendo arrastado por cavalos indômitos, e não havia<br />

sofrimentos que lhe causassem a morte. Sempre se curava <strong>de</strong><br />

todas as feridas; parecia um esqueleto, uma múmia fugida da

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