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Memórias de Padre Germano

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consolo, e isso já é algo, já é um passo no caminho do<br />

progresso.<br />

E que pensas fazer? - perguntei com afã. - Estás <strong>de</strong>cidido a<br />

vir viver em teu castelo?<br />

Ainda não. Tenho se<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, se<strong>de</strong> <strong>de</strong> comando, se<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

glória. Mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que subi à montanha, não sei que <strong>de</strong>mônios<br />

acontece comigo, pois vejo a grama seca por todos os lados,<br />

em todas as paragens sempre a mesma visão, e com Berta<br />

acontece o mesmo. Ela passa o dia na capela, rezando, e,<br />

quando nos vemos, me diz com espanto: "Aquele homem é um<br />

bruxo, e precisa ser morto porque nos enfeitiçou" "Tens razão"<br />

digo eu; mas imediatamente retrocedo horrorizado, pego-a pelo<br />

braço e lhe digo com voz ameaçadora: "Ai <strong>de</strong> ti se aquele<br />

homem <strong>de</strong>saparecer da face da Terra! Ai <strong>de</strong> ti se alguém<br />

arrancar urn fio <strong>de</strong> seus cabelos!" E penso em vós <strong>de</strong> uma<br />

maneira que nunca pensei, e, quando sofro novos <strong>de</strong>senganos,<br />

logo penso: "Irás lhe contar o que aconteceu" e não venho com<br />

freqüência porque muitas atenções ocupam minha vida. Hoje<br />

vim <strong>de</strong>ixando tudo, para ver se ao seu lado para <strong>de</strong> ecoar em<br />

meus ouvidos uma maldita gargalhada que ouço há um mês e<br />

que não me <strong>de</strong>ixa viver. Despachando com o rei, nos<br />

momentos em que estou sozinho em minha câmara, no meio<br />

do festim, em todos os lugares on<strong>de</strong> me encontro ouço a<br />

gargalhada da pobre louca.<br />

Pobre louca? Quem é essa mulher? Quem é essa<br />

<strong>de</strong>sventurada que, sem dúvida, per<strong>de</strong>u a razão por ti?<br />

Quem é? Uma mulher muito bela, padre. Uma mulher que<br />

amei, que <strong>de</strong>sejei, com quem sonhei durante muito tempo e<br />

que por fim odiei com todo meu coração.<br />

E Rodolfo ficou pensativo, dizendo por fim:<br />

Até aqui seu riso me persegue, risada maldita! E felizmente<br />

agora a ouço mais distante, mal se ouve. O senhor a ouve,<br />

padre?<br />

Não, não ouço nada, mas fala, conta-me essa nova história,<br />

por mais que ao ouvi-la meu coração chore.<br />

Em poucas palavras tudo está dito: meu monteiro-mor tinha<br />

uma filha que agora teria vinte anos. Quando pequena, quando

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