09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Como lutei naqueles dias! Havia momentos em que me<br />

<strong>de</strong>cidia a dizer em voz alta: "Esta é minha mãe! Por isso não a<br />

posso tratar com severida<strong>de</strong>'! Mas logo via se <strong>de</strong>sfazer em um<br />

segundo meu trabalho <strong>de</strong> oito anos. Para se impor a uma<br />

multidão é preciso se mostrar superior a ela, e quando essa<br />

superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>saparece, tudo que se faz é inútil. Depois<br />

pensava: "Caso continuem me amando e respeitando, e em<br />

consi<strong>de</strong>ração a mim tolerem e ainda se compa<strong>de</strong>çam <strong>de</strong> minha<br />

mãe, com seus vícios dou um mau exemplo. Eu po<strong>de</strong>rei tolerar<br />

os abusos <strong>de</strong> minha mãe, mas não tenho direito <strong>de</strong> mortificar<br />

nem escandalizar os outros com eles".<br />

0 homem se <strong>de</strong>ve a seus semelhantes, não a suas afeições<br />

exclusivas. Os habitantes <strong>de</strong>sta pequena al<strong>de</strong>ia são minha<br />

família espiritual e meu <strong>de</strong>ver é velar por seu repouso. Se<br />

minha mão direita lhes dá escândalo, <strong>de</strong>vo cortá-la. Porque<br />

entre a torpe satisfação <strong>de</strong> um só e a tranqüilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muitos,<br />

sempre se <strong>de</strong>ve preferir a maior soma <strong>de</strong> bem. O homem<br />

nunca <strong>de</strong>ve pensar em si mesmo, e sim nos outros. Eu me<br />

sinto fraco para corrigir minha mãe. Quando ela vem e fala<br />

comigo, meu coração acelera suas batidas, mas eu me<br />

<strong>de</strong>sespero porque sei que ela seria capaz <strong>de</strong> tudo, até <strong>de</strong><br />

cometer um incesto. Porque, ao me falar <strong>de</strong> seu filho, sempre<br />

me pergunta algo que me machuca.<br />

Que <strong>de</strong>sgraça a minha! Por fim, não tive mais remédio que<br />

escrever a um amigo meu, sacerdote, encarregado da<br />

enfermaria <strong>de</strong> uma associação religiosa, para que, na<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doente, minha mãe fosse internada e submetida a<br />

um regime curativo, único meio <strong>de</strong> dominar seus vícios.<br />

Quando minha mãe soube que tinha que abandonar a al<strong>de</strong>ia<br />

para ir para uma casa <strong>de</strong> cura, ficou exasperada. Mas eu<br />

consegui acalmá-la falando <strong>de</strong> seu filho <strong>Germano</strong>, e,<br />

acompanhada por seis homens, ela saiu da al<strong>de</strong>ia montada em<br />

uma pacífica égua guiada por um jovem e vigoroso al<strong>de</strong>ão.<br />

Quando a vi partir, acompanhei-a até a Fonte da Saú<strong>de</strong> e fiquei<br />

um longo tempo mergulhado na mais dolorosa meditação.<br />

Toda minha vida havia suspirado por minha mãe e, quando a<br />

encontrei, seus vícios e sua <strong>de</strong>senfreada libertinagem me<br />

impediram <strong>de</strong> tê-la ao meu lado. Ela foi

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!