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Memórias de Padre Germano

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Clotil<strong>de</strong> não <strong>de</strong>via ter nascido filha <strong>de</strong>sses pais. Deve saber<br />

que o duque <strong>de</strong> San Lázaro é capaz <strong>de</strong> tudo. Ultimamente, era<br />

o chefe <strong>de</strong> uma conspiração que fracassou, porque Clotil<strong>de</strong>,<br />

indignada <strong>de</strong> ver as perversas intenções <strong>de</strong> seu pai, sem<br />

<strong>de</strong>latar o autor ou nenhum <strong>de</strong> seus cúmplices, avisou o rei para<br />

que ficasse atento, porque alguns <strong>de</strong>scontentes queriam<br />

atentar contra sua vida. Por esse motivo, o rei mandou pren<strong>de</strong>r<br />

alguns revoltosos, mas não suspeitou do duque <strong>de</strong> San Lázaro,<br />

por ser este mais esperto que os outros. Clotil<strong>de</strong> me contava<br />

tudo isso, pois sempre fui sua única confi<strong>de</strong>nte, porque sua<br />

mãe é tão infame quanto seu pai. Ele, que havia tido gran<strong>de</strong>s<br />

discussões com a filha, suspeitou que ela pu<strong>de</strong>sse ter avisado<br />

o rei. E uma noite (não quero nem lembrar) entrou no oratório<br />

on<strong>de</strong> Clotil<strong>de</strong> e eu rezávamos e, pegando a filha pelo braço,<br />

sacudiu-a brutalmente, dizendo: "Eu sei que foste tu que<br />

avisaste o rei'! E a menina disse: "Fui eu, porque amo muito<br />

meu pai e não posso tolerar que seja um assassino'! Ao ouvir<br />

essas palavras o duque<br />

ficou cego <strong>de</strong> raiva e, não fosse por mim, matava naquela<br />

noite mesmo minha amada Clotil<strong>de</strong>. Mas <strong>de</strong> nada serviu salvála<br />

então, pois a perdi <strong>de</strong>pois; passados alguns dias, levaram-na<br />

e voltaram sem ela Eu me joguei aos pés da duquesa<br />

perguntando por minha menina querida, e o duque disse: "Po<strong>de</strong>s<br />

dar graças a Deus por não ter tido a mesma sorte que ela,<br />

pois tu és tão culpada quanto ela. Minha filha vai ver quem é o<br />

pai <strong>de</strong>la, ninguém frustra meus planos impunemente. Os<br />

penitentes negros vão lhe ensinar a obediência que <strong>de</strong>ve a<br />

minhas prescrições" Não sei por que fiquei muda, nada<br />

respondi e maquinalmente fui para meu quarto, peguei todo o<br />

dinheiro que tinha, pensei em meu confessor e logo me lembrei<br />

do senhor, e disse: "Ele é melhor! Saí do palácio e segui<br />

caminho, e aqui me tem para suplicar-lhe em nome do que<br />

mais ama neste mundo que <strong>de</strong>scubra on<strong>de</strong> está minha Clotil<strong>de</strong>.<br />

Uns dizem que o senhor é bruxo, outros que é um santo. Eu<br />

creio que é um padre muito bom, e que não <strong>de</strong>ixará uma pobre<br />

menina morrer. Lembre-se <strong>de</strong> que a batizou. Ela é um anjo, se<br />

soubesse! É tão boa!<br />

E a infeliz chorava <strong>de</strong> um modo que me fazia estremecer.<br />

Fiquei tão comovido que nada respondi. Apoiei minha fronte

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