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Memórias de Padre Germano

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Deus, sou o confi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seus angelicais segredos e sei que a<br />

alma <strong>de</strong>ssa menina não serve para a clausura.<br />

- Pois eu, po<strong>de</strong>-se dizer - replicou a baronesa em um tom<br />

contrariado<br />

- que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela nasceu fiz voto <strong>de</strong> que não fosse para o<br />

mundo, e o voto que se faz se <strong>de</strong>ve cumprir.<br />

- Nas esse voto não é válido, senhora. Prometeu a Deus um<br />

ser que não lhe pertencia, porque não sabia o que amanhã<br />

pensaria sua filha, e Deus nao quer o sacrifício <strong>de</strong> seus filhos,<br />

Deus quer apenas felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les.<br />

- Eque maior felicida<strong>de</strong> que servi-Lo e amá-Lo?<br />

- EE1e não po<strong>de</strong> ser servido e amado em todas as paragens<br />

da Terra sem escravizar uma pobre jovem que precisa, como<br />

as flores, do sol e do ar para viver?<br />

- O senhor não parece sacerdote - replicou ela, com certa<br />

raiva.<br />

- Por que não pareço sacerdote? Porque não tento explorar<br />

sua <strong>de</strong>voção e me oponho a que erga a abadia e,<br />

principalmente, a que Raquel faça parte da comunida<strong>de</strong>?<br />

Porque sei muito bem que a alma <strong>de</strong>ssa menina não nasceu<br />

para a ari<strong>de</strong>z <strong>de</strong> um claustro; ela é doce, carinhosa, expansiva,<br />

é um ser que Deus <strong>de</strong>stinou para ser um mo<strong>de</strong>lo entre as mães<br />

<strong>de</strong> família.<br />

- Pois eu a consagrarei a Deus, e só a Deus servirá.<br />

Naquele momento, não sei o que aconteceu comigo. Eu me<br />

senti crescer, senti-me revestido <strong>de</strong> certo po<strong>de</strong>r espiritual,<br />

julguei-me‟ naqueles instantes, um enviado <strong>de</strong> Deus. Não sei<br />

que anjo me inspirou, mas uma força estranha, uma potência<br />

<strong>de</strong>sconhecida transfigurou meu ser. Deixei <strong>de</strong> ser, naquele<br />

instante, o paciente e sofrido pastor que sorria sempre ao ver<br />

as travessuras <strong>de</strong> suas ovelhas. Senti minhas têmporas<br />

pulsarem com violência inusitada. Parecia que uma mão <strong>de</strong><br />

fogo se apoiava em minha fronte; em meus ouvidos zuniam mil<br />

palavras confusas e incoerentes. Estendi minha mão direita,<br />

levantei-me possuído <strong>de</strong> um terror e um espanto inexplicáveis.<br />

Pareceu-me ver sombras <strong>de</strong> noviças que fugiam em

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