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Memórias de Padre Germano

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À beira do mar!<br />

Estamos no lugar mais propício para que escutem o que vou<br />

contar. Certas narrações só po<strong>de</strong>m ser feitas em lugares<br />

<strong>de</strong>terminados, e a comunicação <strong>de</strong>sta noite é uma <strong>de</strong>las.<br />

Escutem: o amor conta a história das gerações que<br />

passaram. E eu vou contar um acontecimento que <strong>de</strong>cidiu meu<br />

porvir.<br />

Em um dos capítulos <strong>de</strong> minhas memórias, registrei o<br />

nascimento <strong>de</strong> um menino cuja mãe morreu ao dá-lo à luz em<br />

uma pobre cabana. Falei alguma coisa da juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> André<br />

e <strong>de</strong> sua mudança <strong>de</strong> posição; mas não lhes disse que,<br />

durante o tempo <strong>de</strong> sua amamentação, por causa <strong>de</strong> minha<br />

vida nôma<strong>de</strong> e aventureira em minha juventu<strong>de</strong>, eu tive<br />

necessida<strong>de</strong>, quando André ainda não tinha um ano, <strong>de</strong><br />

separá-lo <strong>de</strong> sua ama para colocá-lo em outro lugar mais perto<br />

<strong>de</strong> mim, pois tudo me fazia acreditar (como realmente<br />

aconteceu) que minha peregrinação me levaria para muito<br />

longe do lugar on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>sventurado menino nasceu.<br />

Com ele em meu po<strong>de</strong>r, dirigi-me a uma al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

pescadores, on<strong>de</strong> esperava encontrar uma mãe adotiva para<br />

André até que tivesse ida<strong>de</strong> suficiente para cuidar do menino.<br />

Era uma linda tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> primavera, o mar estava calmo e<br />

minha alma também. Dominado por uma emoção dulcíssima,<br />

aproveitei o manso sono <strong>de</strong> André para <strong>de</strong>ixá-lo alguns<br />

momentos na areia.<br />

O menino não acordou. As ondas vinham docemente <strong>de</strong>ixar<br />

a seus pés sua oferenda <strong>de</strong> espuma e <strong>de</strong>ixavam líquidas<br />

pérolas nas dobras <strong>de</strong> sua roupa. Eu me sentei perto <strong>de</strong> André<br />

e, ao vê-lo tão pequeno, sem mais amparo que o <strong>de</strong> um<br />

sacerdote errante sem lar nem pátria, a calma <strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong><br />

meu espírito, tristes pressentimentos se apo<strong>de</strong>raram <strong>de</strong> minha<br />

mente e murmurei com amargura: "Pobre órfão! Pequeno navio<br />

sem timão nem bússola que vens cruzar o embravecido mar da<br />

vida, que será <strong>de</strong> ti? Tua mãe foi uma mendiga, teu pai não sei<br />

quem foi. Arbusto sem raízes, quis enxertar-te em uma árvore<br />

seca, pois é o que sou neste mundo. Como é triste teu porvir e

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