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Memórias de Padre Germano

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precipícios, e a cega, agarrada às cri- nas, açulava a<br />

cavalgadura para que corresse. Fomos atrás <strong>de</strong>la, mas logo<br />

nos convencemos <strong>de</strong> que tudo era inútil, porque ela<br />

<strong>de</strong>sapareceu <strong>de</strong> nossa vista em muito menos tempo do que<br />

utilizamos para lhe contar. Quatro dias passamos por aqueles<br />

meandros, mas, como não é possível <strong>de</strong>scer ao fundo<br />

daqueles abismos, não conseguimos encontrar seus restos. O<br />

senhor diz que o diabo não existe, mas parece obra <strong>de</strong>le o que<br />

nos ocorreu.<br />

Eu não soube o que respon<strong>de</strong>r àquele relato. A dor e o<br />

remorso me fizeram emu<strong>de</strong>cer e me obrigaram a <strong>de</strong>ixar-me cair<br />

em meu leito, on<strong>de</strong> permaneci muitos dias entre a vida e a<br />

morte. Eu dizia: "Se ela houvesse ficado aqui, talvez não<br />

houvesse morrido. Por outro lado, eu via que era totalmente<br />

impossível, porque o homem que se consagra ao sacerdócio<br />

tem obrigação <strong>de</strong> velar pelo povo que se põe sob seu amparo e<br />

<strong>de</strong>ve evitar tudo que seja pernicioso a sua gran<strong>de</strong> família'!<br />

Que fazem os pais? Não afastam seus filhos das más<br />

companhias? Algumas prostitutas trancam suas filhas em um<br />

convento para que não se contagiem com o vício da mãe.<br />

Alguns bandidos escon<strong>de</strong>m <strong>de</strong> seus filhos seu modo <strong>de</strong> viver<br />

para que eles vivam honrados na socieda<strong>de</strong>. Então, eu cumpri<br />

meu sagrado <strong>de</strong>ver, afastando da al<strong>de</strong>ia aquela que era pedra<br />

<strong>de</strong> escândalo, que pervertia jovens e crianças. Mas aquela<br />

mulher era minha mãe! Eu nunca a vi sorrir, mas imagino que<br />

um dia, olhando para mim, <strong>de</strong>ve ter sorrido. E como o sorriso<br />

<strong>de</strong> uma mãe é o sorriso <strong>de</strong> Deus, eu sonhava ter sido alvo <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>sses sorrisos, e chorava sem saber <strong>de</strong>finir meu<br />

sentimento.<br />

Restou-me uma melancolia tão profunda que nem as<br />

crianças conseguiam me distrair, e não sei se teria sucumbido<br />

se um gran<strong>de</strong> acontecimento não houvesse dado nova guinada<br />

a minhas idéias.<br />

Ano e meio <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> minha mãe, conheci a<br />

menina pálida, a dos cachos negros, aquela que quando era<br />

pequeninha queria vir para mim, atraída por minha voz, quando<br />

eu dizia: "Vin<strong>de</strong> a mim as crianças, que são as limpas <strong>de</strong><br />

coração!"

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