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Memórias de Padre Germano

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sem receber um beijo <strong>de</strong> sua mãe. E já que o orgulho <strong>de</strong><br />

família e a fatalida<strong>de</strong> lhe arrebatam o pão da alma, não lhe<br />

negue o pão do corpo, pois seu sangue corre por aquelas<br />

veias.<br />

Ai, padre, o que me propões é muito comprometedor, e<br />

homem morto não fala.<br />

Como não fala? Que está dizendo? Um morto fala mais que<br />

uma geração inteira! A senhora imagina o que é ser perseguido<br />

pela sombra <strong>de</strong> uma vítima? Eu sei, não por experiência<br />

própria, graças a Deus, mas muitos criminosos me contaram<br />

suas aflições e sei que o remorso é o potro do tor- mento on<strong>de</strong><br />

se tritura o homem. E eu, em nome <strong>de</strong> Deus, e por amor ao<br />

próximo, a proíbo terminantemente <strong>de</strong> levar a cabo seu cínico<br />

plano. Deixe-me cuidar <strong>de</strong> tudo, eu encontrarei uma família em<br />

um povoado próximo que assuma o filho da loucura, e a<br />

senhora cumpre a lei <strong>de</strong> Deus, se não quiser que o sacerdote<br />

se transforme em implacável juiz.<br />

Não sei que metamorfose se opera em mim quando evito<br />

um <strong>de</strong>sacerto, mas sinto-me crescer. Não sou o tímido pastor<br />

das almas que foge do perigo, sou o juiz severo que <strong>de</strong>ve ter<br />

tomado <strong>de</strong>poimentos, naqueles tempos, dos primeiros<br />

soberanos da Terra. Não me <strong>de</strong>slumbraria o res- plendor das<br />

coroas; julgo-me tão forte e me vejo investido <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r tão<br />

especial, que, se não cumprissem minhas <strong>de</strong>terminações, eu<br />

não respeitaria normas sociais. Diria a verda<strong>de</strong> ao mundo<br />

inteiro e, antes <strong>de</strong> consentir com uma felonia, creio que<br />

atentaria contra minha vida. E exerço naqueles instantes uma<br />

subjugação tão po<strong>de</strong>rosa sobre os que me cercam que me<br />

obe<strong>de</strong>cem, se não <strong>de</strong> bom grado, à força. E quando a vida <strong>de</strong><br />

um inocente corre perigo, torno todas as providências para<br />

salvá-lo.<br />

Durante um mês não vivi, até que encontrei uma família<br />

a<strong>de</strong>quada que se encarregasse do órfão, e lhe assegurei uma<br />

gran<strong>de</strong> soma com a qual tenha um bom porvir. E até o<br />

momento em que Clarisa, moribunda, <strong>de</strong>u à luz um menino, fui<br />

sua sombra, pregando constantemente o amor ao próximo. A<br />

jovem me escutava com profundo assombro e seu sentimento<br />

parecia se humanizar, mas eu não fiquei tranqüilo até que vi o

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