09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Eu nunca faço acordos para cometer um crime. E fazer tua<br />

filha professar era mil vezes pior que assassiná-la, porque era<br />

matá-la pouco a pouco. Eu fiquei com ela e aceitei,<br />

aparentemente, tua infame doação<br />

porque era necessário salvar uma vítima. Por isso te fiz<br />

acreditar que me havias comprado. Mas quero que saibas que<br />

nunca me vendi nem me ven<strong>de</strong>rei, porque não existe ouro<br />

bastante nas minas da Terra para comprar a consciência <strong>de</strong><br />

um homem honrado.<br />

E que fez o senhor com Angelina?<br />

O que <strong>de</strong>via fazer: dar-lhe proteção e amparo.<br />

De que modo?<br />

Não te importa. Que direito tens sobre ela? Nenhum.<br />

Como?<br />

Tu ouviste. Reclama-a em nome da lei, dize que esqueceste<br />

o que uma mulher nunca <strong>de</strong>ve esquecer. Não querias afastá-la<br />

<strong>de</strong> ti? Não te estorvava? Pois bem, ela já foi, mas livre, feliz. Tu<br />

querias assassiná-la lentamente, querias que per<strong>de</strong>sse a<br />

razão, e eu lhe <strong>de</strong>i a felicida<strong>de</strong>, porque a <strong>de</strong>volvi a um pai que<br />

há tantos anos a chorava morta.<br />

Está com ele? Que fez? É minha perdição!<br />

Não temas, o marquês nunca te incomodará. Ele é feliz<br />

<strong>de</strong>mais para pensar em ti. Nem ele nem Angelina te<br />

recordarão, pois a vingança das vítimas é esquecer seus<br />

verdugos. Como tua recordação lhes causa horror, para não<br />

sofrer te esquecerão. Ele chorou como uma criança ao ver sua<br />

filha tão jovem e tão linda. Mulher sem coração! Não sentias<br />

pena por tanta juventu<strong>de</strong>, tanta vida, tanto amor ficar sepultado<br />

no fundo <strong>de</strong> um claus- tro, pelo simples capricho <strong>de</strong> tua<br />

vonta<strong>de</strong>? Pobre menina! Quanto a havias martirizado! Mas<br />

agora ela está livre! Graças a Deus, uma vítima a menos!<br />

A con<strong>de</strong>ssa olhava para mim e mil paixões contraditórias a<br />

faziam sofrer e empali<strong>de</strong>cer. O ódio animava seus olhos. Eu<br />

me levantei, olhei-a fixamente e a fiz tremer, dizendo:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!