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Memórias de Padre Germano

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surgiam em minha mente dolorosas remi- niscèncias. Quando<br />

mais preocupado estava, ouvi barulho <strong>de</strong> cavalos que pararam<br />

em frente à igreja; ouvi muitas vozes confusas e, por último, vi<br />

uma mulher entrar no templo, dirigindo-se a mim. E eu, em vez<br />

<strong>de</strong> sair a seu encontro, retirei-me com expressão sombria e me<br />

sentei em um confessionário, disposto a evitar todo tipo <strong>de</strong><br />

comunicação. Mas a mulher me seguiu e, ao se aproximar,<br />

exclamou:<br />

- <strong>Padre</strong> <strong>Germano</strong>, é inútil que se afaste <strong>de</strong> mim. Venho <strong>de</strong><br />

muito longe para falar com o senhor. ]á me conhece e sabe<br />

que, quando eu quero uma coisa, consigo. De modo que sua<br />

resistência é inútil.<br />

E se ajoelhou diante do confessionário. Mas com uma<br />

expressão hostil, insultante, seu corpo se dobrou por puro<br />

formalismo, pois se via que estava disposta a empregar a força<br />

para conseguir seu <strong>de</strong>sejo.<br />

A voz daquela mulher crispou todos os meus nervos e me<br />

irritou <strong>de</strong> tal maneira que transformou por completo meu modo<br />

<strong>de</strong> ser. Eu a conhecia havia muitos anos e sabia que era um<br />

réptil que se arrastava pela Terra e que havia causado mais<br />

vítimas que cem batalhas. Sabia que, quando uma mulher<br />

<strong>de</strong>sonrava o nome <strong>de</strong> seu pai, ou <strong>de</strong> seu marido, e sua <strong>de</strong>sonra<br />

se tomava visível, chamavam a harpia, davam-lhe um<br />

punhado <strong>de</strong> ouro e ela se encarregava <strong>de</strong> estrangular o terno<br />

ser, fruto inocente <strong>de</strong> ilícitos amores. Sabia que ela havia<br />

seduzido muitas jovens e as havia levado aos braços da<br />

prostituição. Sabia que aquela mulher era pior que Caim. Sabia<br />

tantos <strong>de</strong>talhes, e <strong>de</strong>talhes tão horríveis <strong>de</strong> sua vida, que,<br />

todas as vezes que se havia posto em meu caminho, fugi <strong>de</strong>la,<br />

sentindo uma repugnância invencível. E, ao vê-la tão perto <strong>de</strong><br />

mim, eu me exasperei e lhe disse furioso:<br />

Pouco me importa que venhas <strong>de</strong> muito longe. Nada quero<br />

ouvir que se relacione contigo, nada, enten<strong>de</strong>s bem? Pois, vá<br />

daqui e <strong>de</strong>ixa-me em paz. Sei que em breve partirei, e tenho<br />

direito a morrer com tranqüilida<strong>de</strong>. E sei que, falando convosco,<br />

per<strong>de</strong>rei a paz <strong>de</strong> minha alma.

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