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Memórias de Padre Germano

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por minhas veias esse algo <strong>de</strong>sconhecido que se infiltra em<br />

meu ser quando tenho que convencer ou apequenar algum<br />

pecador. Correntes <strong>de</strong> fogo envolveram minha cabeça. Meu<br />

corpo encurvado ergueu-se com majesta<strong>de</strong>. Peguei a mão <strong>de</strong><br />

Angelina e lhe disse:<br />

Menina, ouve-me, olha bem para mim. Faz sessenta anos<br />

que estou na Terra e a mentira nunca manchou meus lábios.<br />

Eu prometo velar por ti, eu te ofereço fazer-te feliz, tão feliz<br />

quanto po<strong>de</strong> ser uma mulher no mundo. Eu te darei família! Eu<br />

te darei dias <strong>de</strong> glória, dias <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>! Confia e espera,<br />

pobre alma doente, que já muito tempo sofreste no mundo.<br />

Ah, se soubesse, meu padre, quanto pa<strong>de</strong>ci! - exclamou<br />

Angelina com voz vibrante. - Parece um sonho ouvir uma voz<br />

amiga. Vivi sempre tão sozinha! E não sei como não perdi a<br />

razão. À noite sonhava que estava fora do convento e era tão<br />

feliz. Andava a cavalo, muitos cavaleiros me seguiam, mas eu<br />

sempre corna mais que todos, e <strong>de</strong>pois... ah, que horrível era<br />

meu <strong>de</strong>spertar! Quando me levantava e me via prisioneira<br />

naquela sombria fortaleza, vendo passar diante <strong>de</strong> mim<br />

aquelas mulheres com seus hábitos negros, <strong>de</strong> rosto ca-<br />

davérico, sem que um sorriso se <strong>de</strong>senhasse naqueles lábios<br />

secos, sentia um medo tão horrível que saía fugindo como uma<br />

louca, gritando: "Meu Deus, meu Deus, tem pieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim!" E<br />

Deus se apiedou <strong>de</strong> meu sofrimento. A con<strong>de</strong>ssa me tirou dali<br />

e me levou ao castelo <strong>de</strong> San Laurencio, e ali fui quase feliz<br />

por seis meses. Passava o dia no campo, subindo pelos<br />

montes; outras vezes, percorrendo com meu cavalo as<br />

imensas planícies que cercam o castelo. Eu tinha se<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

e ali a saciei em parte, mas a felicida<strong>de</strong> durou pouco. A<br />

con<strong>de</strong>ssa começou a dizer que a fatalida<strong>de</strong> pesava sobre meu<br />

<strong>de</strong>stino, que os filhos espúrios <strong>de</strong>vem fugir para não contagiar<br />

a socieda<strong>de</strong>, que eu era a vergonha <strong>de</strong> uma nobre família, e eu<br />

lhe respondia com meu pranto. E assim vivi mais seis meses,<br />

até que ontem ela me disse: "Vou levar-te para conhecer um<br />

santo para que aprendas a amar a Deus" O senhor, sem<br />

dúvida, é o santo.<br />

Não, minha filha, estou muito longe da santida<strong>de</strong>, mas<br />

repito: Deus te trouxe a esta pobre morada para que nela<br />

encontres o repouso <strong>de</strong> que tanto tua alma necessita. Em

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