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Memórias de Padre Germano

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Segui-me - disse eu com afã. - Necessitas <strong>de</strong>scanso, estás<br />

doente, crê em mim.<br />

Bem, eu o seguirei, mas amanhã me ouvirá, se não <strong>de</strong> bom<br />

grado, por obrigação.<br />

Conduzi-o a meu quarto, fiz que tomasse alimento, aju<strong>de</strong>i-o<br />

a se <strong>de</strong>spir e ele se <strong>de</strong>itou em meu leito. Logo adormeceu, um<br />

sono agitado, e eu então o contemplei atentamente. Era um<br />

homem <strong>de</strong> uns cinqüenta anos, <strong>de</strong> arrogante figura e até<br />

dormindo seu semblante revelava orgulhosa altivez. Retirei-me<br />

a meu oratório e ali me entreguei a pensar, e, como o réu no<br />

corredor da morte, temia que amanhecesse e chegasse a hora<br />

<strong>de</strong> meu suplício. Eu me perguntava: "Quem será esse homem,<br />

Senhor? Que novos crimes saberei amanhã? Que novos<br />

inimigos criarei?" Porque nunca transigirei com a hipocrisia,<br />

nem entregarei nenhum criminoso à justiça, pois sei que<br />

<strong>de</strong>struo um corpo e entrego um espírito ao tormento, e prefiro<br />

trabalhar em sua regeneração com todas as forças <strong>de</strong> minha<br />

alma. Eu quero a correção para o criminoso, mas não quero os<br />

tormentos horríveis, os trabalhos forçados. Quero fazê-los<br />

pensar e fazê-los sentir. Não encontro isso nas leis da Terra, e<br />

por isso evito entregar-lhe novas vítimas. Mas isso me<br />

ocasiona gran<strong>de</strong>s responsabilida<strong>de</strong>s, porque, embora, até<br />

agora, todos os seres culpados que arrebatei dos tribunais<br />

<strong>de</strong>ste mundo tenham se regenerado, po<strong>de</strong>ria haver algum que,<br />

por minha tolerância, cometesse novos crimes. Ah, Senhor, as<br />

forças me faltam, tem misericórdia <strong>de</strong> minha fraqueza. Eu,<br />

quando ouço uma confissão, quando vejo uma vida cheia <strong>de</strong><br />

horrores, i<strong>de</strong>ntifico-me com aquele pobre ser e sofro com seus<br />

remorsos, e pa<strong>de</strong>ço com a agonia <strong>de</strong> suas vítimas e sombras<br />

aterradoras atormentam meu sono, e não sei o que acontece<br />

comigo.<br />

As horas se passaram, o alvorecer cobriu <strong>de</strong> púrpura com<br />

seu manto o velado horizonte, os pássaros chamaram o Pai do<br />

dia e Ele lhes respon<strong>de</strong>u enviando-lhes seus raios luminosos, e<br />

o doente se levantou em seu leito, dizendo com tom satisfeito:<br />

Dormi muito bem, padre! Sinto-me perfeitamente bem, e o<br />

que quase nunca acontece, sonhei com minha mãe. E como<br />

são os sonhos... Vi-a como era.

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