09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

enquanto meu velho Miguel chorava como um menino. Pobre<br />

ancião!<br />

Quando me vi longe <strong>de</strong> minha al<strong>de</strong>ia, senti um frio tão<br />

intenso, senti uma dor tão forte e tão aguda no coração que<br />

julguei morrer. Pensei nela, pedi-lhe alento, pedi-lhe fé,<br />

esperança e coragem para não sucumbir à prova. E como se<br />

ela fosse meu anjo da guarda, instantaneamente me senti mais<br />

animado e me pareceu ouvir uma voz distante que me dizia:<br />

"Devolve bem por mal; cumpre teu <strong>de</strong>ver'!<br />

E eu cumpri. Cheguei à corte, conferenciei com o rei<br />

repetidas vezes e em todas as nossas entrevistas parecia que<br />

os papéis se trocavam: ele parecia o súdito e eu o soberano.<br />

Com tanta energia lhe falava e com tanto império lhe dizia! "Se<br />

quereis ser gran<strong>de</strong>, se<strong>de</strong> bom. As coroas são quebradas pelos<br />

povos. As virtu<strong>de</strong>s são mais fortes que os séculos. O mau rei<br />

<strong>de</strong> hoje será o escravo <strong>de</strong> manhã. O espírito vive para sempre,<br />

não esqueçais"<br />

Dois meses permaneci prisioneiro como réu <strong>de</strong> Estado, mas<br />

muito bem atendido e muito visitado pelo rei, alma doente,<br />

espírito perturbado que vivia muito sozinho. Fiz o que pu<strong>de</strong><br />

para regenerar aquela alma, e em parte consegui.<br />

Uma manhã, recebi a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> abandonar minha clausura<br />

para me juntar ao rei, que ia caçar nos montes que servem <strong>de</strong><br />

muralha com minha al<strong>de</strong>ia. Meu coração palpitou <strong>de</strong> prazer.<br />

Puseram-me em uma liteira e, cercado por numerosa escolta,<br />

segui a comitiva que ia com o rei que, ao chegar a minha<br />

amada al<strong>de</strong>ia, viu-se cercado por todos os seus habitantes,<br />

que o aclamaram com verda<strong>de</strong>iro entusiasmo. E eu, do fundo<br />

<strong>de</strong> minha carruagem, via aqueles seres queridos, aquelas<br />

crianças, meus inseparáveis companheiros, que, prostrando-se<br />

aos pés do monarca, diziam: "Trazeis nosso padre?" E ouviase<br />

um clamor in<strong>de</strong>scritível. Uns suplicavam, outros davam<br />

vivas. Eu, a curta distância, sem ser visto, via aquela cena<br />

realmente comovente. O rei havia posto pé em Terra e as<br />

crianças e mulheres o cercavam, quando por entre a apinhada<br />

multidão abriu caminho uma jovem al<strong>de</strong>ã, espírito que está em<br />

missão na Terra, tão linda quanto discreta. Conforme o rei me<br />

contou <strong>de</strong>pois, ela se aproximou do soberano e disse:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!