09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

como se uma força estranha se apo<strong>de</strong>rasse <strong>de</strong> mim, saí <strong>de</strong><br />

meu intumescimento, estremeci violentamente, levantei-me<br />

iracundo, saí do confessionário, peguei-a pelo braço e fiz que<br />

se levantasse, dizendo: - Se eu acreditasse em sortilégios,<br />

acreditaria que me enfeitiçaste, sendo que tive paciência <strong>de</strong><br />

ouvir-te tanto tempo. Mas não, sem dúvida meu espírito quis se<br />

convencer <strong>de</strong> tua infâmia, e por isso te prestei atenção, para ter<br />

certeza <strong>de</strong> que és pior que todos os Cains, e Hero<strong>de</strong>s, e<br />

Calígulas e Neros <strong>de</strong> que nos fala a história. Para mim nunca<br />

houve pecador em quem não tenha encontrado um átomo <strong>de</strong><br />

sentimento. Mas em ti só vejo a mais cruel ferocida<strong>de</strong>, mas<br />

uma ferocida<strong>de</strong> inconcebível. Tu te regozijaste matando as<br />

crianças, que são os anjos do Senhor. Não te comoveste<br />

vendo a impotência <strong>de</strong>las; nada te disseram aqueles olhos, que<br />

guardam o resplendor dos céus. Tu te apo<strong>de</strong>raste <strong>de</strong>les como<br />

fera sem entranhas e sorriste quando os viste agonizar. E,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantos crimes, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser o opróbio e o horror da<br />

humanida<strong>de</strong>, queres levantar um templo, queres profanar esta<br />

pobre igreja, revestindo-a com mármores comprados com um<br />

dinheiro maldito. Queres envenenar a Fonte da Saú<strong>de</strong> fazendo<br />

o manancial <strong>de</strong> Deus servir para um tráfico infame. Queres<br />

comprar o <strong>de</strong>scanso eterno com um novo crime. Miserável! Sai<br />

daqui! Para ti, Deus não tem misericórdia! Agora pensas no<br />

repouso, e tu jamais po<strong>de</strong>s repousar. Tu tens que ir como o<br />

ju<strong>de</strong>u errante da lenda bíblica, percorrendo o universo: quando<br />

pedires água, as crianças que tu assassinaste te entregarão<br />

seu sangue mesclado com fel, e te dirão "Bebe e anda!" e tu<br />

andarás, e andarás séculos e séculos sem que a luz do sol fira<br />

teus olhos; e perto <strong>de</strong> ti, muito perto, ouvirás vozes confusas<br />

que te dirão: "Maldita, maldita sejas!" E eu sou o primeiro, eu te<br />

digo: Sai daqui, pois as pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste santo templo parecem<br />

rachar, parece que querem <strong>de</strong>sabar para não servir <strong>de</strong><br />

abóbada para tua cabeça, tua horrível cabeça, on<strong>de</strong> só<br />

germinaram as idéias do crime! Eu, que por todos tive<br />

compaixão, e que escondi tantos malfeitores, para ti só tenho o<br />

anátema e a excomunhão. Foge daqui, maldita dos séculos!<br />

Foge daqui, leprosa incurável! Foge daqui, que o sol se nubla<br />

porque não quer se contagiar contigo!

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!