09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Pois bem, apoia-te em mim e vamos sair daqui. Como te<br />

chamas?<br />

João.<br />

Pois vê, João, consi<strong>de</strong>ra que esta noite nasceste <strong>de</strong> novo<br />

para ser grato aos olhos do Senhor.<br />

E, guiados por Sultão, saímos da caverna, que tinha muitos<br />

meandros. Passamos os barrancos e, ao ver-me em terreno<br />

plano, estreitei o braço <strong>de</strong> meu companheiro e disse-lhe:<br />

Olha, João, olha este espaço e abençoa a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong><br />

Deus.<br />

Mas, aon<strong>de</strong> vamos? - perguntou-me com receio.<br />

A minha casa. E te escon<strong>de</strong>rei em meu oratório, on<strong>de</strong><br />

ninguém nunca entra. Ali <strong>de</strong>scansarás e <strong>de</strong>pois<br />

conversaremos.<br />

João se <strong>de</strong>ixou conduzir. Chegamos ao jardim da reitoria<br />

muito antes do amanhecer. Levei meu companheiro a meu<br />

oratório, improvisei-lhe uma cama e fiz que se <strong>de</strong>itasse, e ali<br />

fiquei três dias cuidando <strong>de</strong>le com esmero.<br />

Ele me olhava e não entendia o que acontecia. Na terceira<br />

noite, quando os habitantes da al<strong>de</strong>ia se entregaram ao sono,<br />

João e eu, acompanhados <strong>de</strong> meu inseparável Sultão, fomos a<br />

uma ermida abandonada pela morte <strong>de</strong> seu ermitão, ocorrida<br />

havia muitos anos, e, diante do altar <strong>de</strong>rruído, João e eu nos<br />

sentamos em uma pedra, com Sultão aos nossos pés. João era<br />

um sujeito repulsivo, <strong>de</strong> semblante feroz. Estava aturdido,<br />

olhava-me <strong>de</strong> soslaio e ao mesmo tempo parecia contente com<br />

meu proce<strong>de</strong>r, porque havia momentos em que seus olhos se<br />

fixavam em mim com tímida gratidão. Eu tentei dominá-lo com<br />

minha vonta<strong>de</strong> e disse a ele:<br />

Escuta, João. Eu fiquei feliz salvando-te <strong>de</strong> uma morte certa:<br />

terias morrido <strong>de</strong> fome ou, entregue por mim à justiça, terias<br />

sofrido em Tolón mil mortes por dia. Dize-me agora qual foi o<br />

princípio <strong>de</strong> tua vida e dize- me, acima <strong>de</strong> tudo, a verda<strong>de</strong>.<br />

Minha vida tem pouco que contar; minha mãe foi uma<br />

meretriz e meu pai um ladrão. No bando que meu pai li<strong>de</strong>rava,<br />

havia um italiano muito esperto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito pequeno me

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!