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Memórias de Padre Germano

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Miguel, em resposta, foi buscar seu velho capote e se<br />

ofereceu para que me apoiasse nele. Saímos e seguimos<br />

Sultão, que logo se per<strong>de</strong>u por entre as escabrosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um<br />

barranco. Rapidamente o seguimos, subimos uma montanha.<br />

No meio da subida, Sultão parou e olhou para um novo<br />

barranco, latindo agitado. Paramos e Miguel disse, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

ouvir por alguns instantes:<br />

Creio que lá no fundo há alguém se queixando.<br />

Mas o vento que assoviava por entre aquelas fendas não<br />

nos <strong>de</strong>ixava ouvir nada. Sultão, para nos convencer, olhou o<br />

terreno, <strong>de</strong>u várias voltas e começou a <strong>de</strong>scer, e nós o<br />

seguimos, guiados e sustentados por algum anjo do Senhor,<br />

pois <strong>de</strong> outro modo não se concebe que conseguíssemos<br />

vencer tantas dificulda<strong>de</strong>s. Chegamos a um lugar plano, <strong>de</strong><br />

pedras, e ali encontramos um homem que se lamentava<br />

angustiado. Miguel e eu o levantamos e, como se aquele pobre<br />

ser estivesse nos esperando, ao se sentir amparado por nós,<br />

disse com voz abafada:<br />

Graças a Deus!<br />

E per<strong>de</strong>u os sentidos. Depois <strong>de</strong> uma marcha penosíssima,<br />

chegamos à igreja e <strong>de</strong>itamos aquele pobre infeliz em um<br />

banco da sacristia. Prestamos os auxílios convenientes e ele<br />

logo abriu os olhos, olhando para todos os lados. Olhou para<br />

os camponeses que o cercavam e se levantou prontamente,<br />

dizendo:<br />

Vão embora daqui! Não sei se estou morto ou vivo, mas<br />

quero ficar sozinho. Ouvistes? Vão embora!<br />

Esvaziei o aposento e fiquei sozinho com o velho e Sultão,<br />

que, como se compreen<strong>de</strong>sse que seu trabalho já estava<br />

concluído, <strong>de</strong>itou-se para <strong>de</strong>scansar <strong>de</strong> sua fadiga. Eu me<br />

sentei ao lado do doente e disse:<br />

Pelo modo como falas, percebe-se que não estás ferido,<br />

graças a Deus.<br />

Não há ninguém na Terra que possa ferir meu corpo, porém,<br />

minha alma está ferida. Agora diga-me: estou morto ou vivo?<br />

Sinto gran<strong>de</strong> confusão em minhas idéias.

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