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Memórias de Padre Germano

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O bem é a semente <strong>de</strong> Deus<br />

Como estava linda a tar<strong>de</strong>! Nem uma nuvem embaçava o<br />

Armamento, adornado com seu manto azul. Nem a mais leve<br />

névoa velava os cumes das montanhas. E elas se <strong>de</strong>stacavam<br />

no límpido horizonte coroadas <strong>de</strong> abe- tos seculares. No fundo<br />

do vale pastavam tranqüilamente mansas ovelhas. Pelas<br />

moitas das colinas saltavam e corriam ágeis e saltítantes<br />

cabritinhos, disputando a vitória nas subidas com um enxame<br />

<strong>de</strong> alegres crianças que brincavam com eles. Reinava na<br />

natureza a calma mais mansa, e o espírito se entregava a essa<br />

doce quietu<strong>de</strong>; a essa grata sonolência na qual a alma sonha<br />

acordada. A minha sonhou também. Cheguei à Fonte da<br />

Saú<strong>de</strong> e me sentei junto ao manancial. Sultão se <strong>de</strong>itou, pondo<br />

a cabeça em meus pés. E eu me entreguei a pensar na solidão<br />

<strong>de</strong> minha vida, no isolamento íntimo <strong>de</strong> meu ser. Mas a<br />

agradável paisagem absorvia minha atenção e apagava <strong>de</strong><br />

minha mente o tom <strong>de</strong> amargura que minhas reflexões sempre<br />

<strong>de</strong>ixam. Olhava o céu, aspirava o ambiente embalsamado,<br />

escutava o rumor das folhas agitadas por um vento suave e<br />

dizia a mim mesmo: "Quem diria que sob este céu abrigam-se<br />

dores? Se tudo sorri! Se tudo parece murmurar uma bênção!<br />

Paixões humanas! Fugi com vossos ódios, com vossas<br />

mesquinhas ambições, com vossos prazeres fugazes, com<br />

vosso remorso e com vossa intensa dor! Que minha alma<br />

repouse na contemplação! Que meu espírito se alegre na<br />

quietu<strong>de</strong> da natureza! E bendito Deus que me conce<strong>de</strong>u<br />

<strong>de</strong>sfrutai <strong>de</strong>ste bem inestimável!" E fiquei embevecido em<br />

místico recolhimento.<br />

Não sei quanto tempo permaneci entregue ao repouso; só<br />

sei que <strong>de</strong> repente Sultão se levantou, <strong>de</strong>u alguns passos,<br />

retroce<strong>de</strong>u e ficou parado diante <strong>de</strong> mim em atitu<strong>de</strong><br />

ameaçadora, com a boca entreaberta.<br />

- Sultão, estás louco? Que é que te <strong>de</strong>u? - disse eu<br />

apoiando minha mão direita em sua cabeça. Sultão não me<br />

<strong>de</strong>u ouvidos, continuou escutando e <strong>de</strong> repente saiu correndo.<br />

Segui sua direção com avista e vi surgir um homem, que ao ver<br />

meu companheiro em atitu<strong>de</strong> tão hostil, ameaçou-o com seu<br />

bastão.

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