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Memórias de Padre Germano

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Amante da justiça, meus companheiros me apontaram o<br />

<strong>de</strong>do; conceituaram-me como elemento perturbador, e me<br />

confinaram em uma al<strong>de</strong>ia on<strong>de</strong> passei mais da meta<strong>de</strong> da<br />

vida. E quando a calma ia se apo<strong>de</strong>rando <strong>de</strong> minha mente,<br />

quando a mais doce melancolia me <strong>de</strong>ixava absorto em mística<br />

meditação, quando minha alma gozava algumas horas <strong>de</strong><br />

manso sono moral, chamavam-me da cida<strong>de</strong> vizinha para<br />

abençoar um casamento, para tomar a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira confissão <strong>de</strong><br />

um moribundo, para assistir à agonia <strong>de</strong> um réu à espera da<br />

morte. E, contrariado sempre, nunca pu<strong>de</strong>, ao conceber um<br />

plano, levá-lo a efeito, por mais simples que fosse. E eu fui um<br />

ser inofensivo, amei as crianças, consolei os infelizes, cumpri<br />

fielmente os votos que pronunciei. Por que essa luta surda?<br />

Por que essa contrarieda<strong>de</strong> contínua? Se meu espírito só tem<br />

direito a se individualizar nesta existência, por que Deus, amor<br />

imenso (que n'Ele tudo é amor), me fez viver nesta terrível<br />

solidão? Ah! Não, não, meu próprio tormento me diz que vivi<br />

ontem. Se não reconhecesse meu passado, negaria meu Deus!<br />

E eu não posso negar a vida. Mas, ah, quanto sofri! Só uma<br />

vez pu<strong>de</strong> fazer minha vonta<strong>de</strong>, só uma vez <strong>de</strong>monstrei a<br />

energia <strong>de</strong> meu espírito, e como fui feliz então!<br />

- Oh, Senhor, Senhor, as forças <strong>de</strong> minha alma não po<strong>de</strong>m<br />

ser inutilizadas no curto prazo <strong>de</strong> uma existência! Eu viverei<br />

amanhã, eu voltarei à Terra e serei um homem dono <strong>de</strong> minha<br />

vonta<strong>de</strong>! E eu te proclamarei, Senhor, não entre homens<br />

presos a vãos formalismos. Eu proclamarei tua glória nas<br />

aca<strong>de</strong>mias, nos ateneus, nas universida<strong>de</strong>s, em todos os templos<br />

do saber, em todos os laboratórios da ciência! Eu serei um<br />

<strong>de</strong> teus sacerdotes! Eu serei um <strong>de</strong> teus apóstolos, mas não<br />

farei outros votos além dos <strong>de</strong> seguir a lei <strong>de</strong> teu Evangelhol<br />

Eu amarei, porque tu nos ensinas a amar. Eu criarei uma<br />

família para mim, porque tu nos dizes crescei e multiplicai-vos.<br />

Eu vestirei os órfãos, como tu vestes os lírios dos campos. Eu<br />

hospedarei o peregrino, como tu hospedas nos galhos as aves.<br />

Eu difundirei a luz <strong>de</strong> tua verda<strong>de</strong>, como tu difun<strong>de</strong>s o calor, e<br />

espalhas a vida com teus múltiplos sóis em teus infinitos<br />

universos. Oh, sim, eu viverei, porque, se não vivesse amanhã,<br />

negaria tua justiça, Senhor!

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