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Memórias de Padre Germano

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minha alma e reflitas sobre os extravios a que nos conduzem<br />

as paixões <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas. E vejas que a hipocrisia e o<br />

fingimento têm sido, quase sempre, os motivos das fundações<br />

religiosas.<br />

Ao pé <strong>de</strong> uma montanha, entre duas penhas, um leito <strong>de</strong><br />

água cristalina aplacava a se<strong>de</strong> das crianças <strong>de</strong> minha al<strong>de</strong>ia.<br />

E naquelas felizes tar<strong>de</strong>s que eu passava cercado <strong>de</strong> crianças,<br />

quando ainda não conhecia as misérias do mundo, gostava <strong>de</strong><br />

me sentar junto ao rústico manancial e ali contemplava minha<br />

infantil família que corria gozosa e terminava sua frugal<br />

merenda bebendo alegremente aquele néctar da natureza, tão<br />

necessário para viver. E, ao ver aqueles rostinhos corados,<br />

aqueles olhos brilhantes, aquelas bocas sorri<strong>de</strong>ntes que<br />

recolhiam a água com alvoroçado afã, eu lhes dizia: - Bebam,<br />

bebam, filhos meus, que esta é a água da saú<strong>de</strong>.<br />

Des<strong>de</strong> então, todos os habitantes da al<strong>de</strong>ia chamaram o<br />

humil<strong>de</strong> manancial <strong>de</strong> "a Fonte da Saú<strong>de</strong>'!<br />

Água salutar era, na verda<strong>de</strong>, para as inocentes crianças<br />

que me seguiam para que as <strong>de</strong>ixasse brincar com Sultão e<br />

lhes contasse histórias <strong>de</strong> fantasmas. Para as almas puras<br />

todas as águas são boas! Além do mais, quando vim para a<br />

al<strong>de</strong>ia, notei muito <strong>de</strong>scuido no asseio das crianças, e<br />

lentamente fui impondo a elas a limpeza como um <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

bom cristão, e, para que melhor obe<strong>de</strong>cessem, eu dizia às<br />

crianças: - Se todos os dias lavar<strong>de</strong>s duas vezes os olhos com<br />

a água da saú<strong>de</strong>, nunca ficareis doentes.<br />

E aqueles inocentes (que me amavam muito) cumpriam<br />

religiosamente a instrução do senhor padre, acreditando que a<br />

água tinha uma virtu<strong>de</strong> milagrosa, e a virtu<strong>de</strong> consistia na<br />

limpeza que eles e as mães foram adquirindo paulatinamente.<br />

Essa foi a origem da Fonte da Saú<strong>de</strong>. Que simples princípios<br />

têm, quase sempre, todas as coisas! Mas como não faziam<br />

nenhuma especulação, eu os <strong>de</strong>ixava acreditar que a água<br />

daquela fonte tinha a virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservar a visão, a fim <strong>de</strong> que<br />

meus fiéis tivessem o bom costume do asseio higiênico.<br />

Um dia, um <strong>de</strong> meus superiores chegou e disse que seria<br />

conveniente ver se seria possível erguer uma capela junto à<br />

Fonte da Saú<strong>de</strong>, porque, assim, quando as mulheres fossem

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