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Memórias de Padre Germano

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daquele novo transtorno, conduzi o ferido a minha pobre casa e<br />

o colocaram em meu oratório. E <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ficou acomodado<br />

ali, dias verda<strong>de</strong>iramente horríveis começaram para mim.<br />

Que quadro, Senhor, que quadro! Eu o comparava aos<br />

primeiros anos <strong>de</strong> Lina, quando Gustavo a <strong>de</strong>ixava em meus<br />

joelhos e me dizia: "<strong>Padre</strong>, olha, como é bonita!" Que diferença<br />

com o quadro que tinha diante <strong>de</strong> meus olhos! Que<br />

metamorfose!<br />

Lina não parecia ela. Até seus cabelos estavam grisalhos.<br />

De Gustavo, não há o que falar; magro, enegrecido, com os<br />

olhos quase sempre fechados, a boca contraída para sufocar<br />

gemidos. Mas, se conseguia conter gritos, não podia ocultar o<br />

sangue que brotava <strong>de</strong> sua boca. A cabeça envolta em<br />

sangrentas bandagens, que, por or<strong>de</strong>m expressa do médico,<br />

não podíamos tocar. Não podíamos lhe dar alimento porque a<br />

febre o <strong>de</strong>vorava. E Lina, junto a ele, muda, sombria, com o<br />

olhar sempre fixo no rosto do ferido, dizendo-me <strong>de</strong> vez em<br />

quando com voz apagada:<br />

- Que incômodo estamos te causando, padre! Mas pouco<br />

tempo te resta para sofrer, porque Gustavo partirá, e eu irei<br />

com ele, porque no túmulo ele teria medo sem mim. Sim, sim,<br />

eu <strong>de</strong>vo ir com ele, sem ele não quero ficar aqui.<br />

Eu não sabia o que respon<strong>de</strong>r. Olhava para ela, via em seus<br />

olhos uma calma impressionante, um não sei quê que me<br />

horrorizava. Olhava para ele e murmurava baixinho: "Senhor!<br />

Senhor, tem misericórdia <strong>de</strong> nós. Afasta <strong>de</strong> meus lábios este<br />

cálice e, se hei <strong>de</strong> beber até a última gota, dá-me forças.<br />

Senhor, dá-me alento para suportar o enorme peso <strong>de</strong> minha<br />

cruz".<br />

Gustavo, <strong>de</strong> vez em quando, tinha momentos <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z.<br />

Abria os olhos, olhava para sua amada com santa adoração,<br />

<strong>de</strong>pois me notava e dizia com amargura: "Pobre! Pobre Lina!<br />

<strong>Padre</strong>, padre! É verda<strong>de</strong> que Deus não existe?" E o infeliz<br />

doente começava <strong>de</strong> novo a <strong>de</strong>lirar, e Lina me dizia: "<strong>Padre</strong>!<br />

<strong>Padre</strong>, vamos rogar por ele!"<br />

Que dias, Senhor, que dias! Fico horrorizado <strong>de</strong> lembrar.<br />

Nem um momento <strong>de</strong> repouso, nem um segundo <strong>de</strong>

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