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Memórias de Padre Germano

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Tudo me foi negado na vida, tudo! Fui tão pobre que não<br />

possuí nem o carinho <strong>de</strong> minha mãe, apesar <strong>de</strong> que ela <strong>de</strong>ve<br />

ter ouvido minhas primeiras palavras, e <strong>de</strong>ve ter visto meus<br />

primeiros passos. Eu me envergonho <strong>de</strong> mim mesmo! Até os<br />

criminosos costumam ter uma mãe que os chora quando<br />

sobem ao patíbulo, e se eu houvesse subido, minha mãe não<br />

teria me chorado. Mas para que continuar escrevendo? Mais<br />

vale emu<strong>de</strong>cer. Sou tão velho que já ninguém se lembra <strong>de</strong><br />

minha infância e meu segredo morrerá comigo. Mas não: eu<br />

vim à Terra ensinar a pura verda<strong>de</strong>. Eu vim mostrar o que os<br />

homens ainda tardarão alguns séculos para compreen<strong>de</strong>r: que<br />

cada ser se engran<strong>de</strong>ce por si mesmo. Não somos salvos pela<br />

graça, não, lesus Cristo não veio nos salvar; veio apenas para<br />

nos recordar nosso <strong>de</strong>ver. Morreu para imortalizar sua<br />

recordação, para <strong>de</strong>ixar gravadas na mente da humanida<strong>de</strong> as<br />

sentenças <strong>de</strong> seu Evangelho. E tal foi a magia <strong>de</strong> sua doutrina<br />

que as gerações que o seguiram o aclamaram como<br />

primogênito <strong>de</strong> Deus, e ainda acreditaram que, junto com seu<br />

divino pai, regia os <strong>de</strong>stinos do mundo. Os homens se julgaram<br />

redimidos por haver-se <strong>de</strong>rramado o sangue <strong>de</strong> um inocente.<br />

Ah, se pelo <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue vertido injustamente se<br />

salvasse a humanida<strong>de</strong>, os terrestres po<strong>de</strong>riam ter certeza <strong>de</strong><br />

habitar o Paraíso. Porque a justiça humana é cega. Mas não,<br />

ninguém se salva pelo sacrifício do outro. Cada um tem que<br />

comprar sua alforria pagando em boa moeda, na moeda das<br />

boas obras, dos gran<strong>de</strong>s sacrifícios, esquecendo as ofensas e<br />

amparando o fraco. Cada um cria seu patrimônio e, por ínfima<br />

que seja a classe do homem, quando ele quer engran<strong>de</strong>cer,<br />

chega a ser gran<strong>de</strong>, muito gran<strong>de</strong>, quando se compara com<br />

seu nascimento e usa todas as forças <strong>de</strong> que pô<strong>de</strong> dispor.<br />

Tenho a prova em mim, Senhor. Em mim vi resplan<strong>de</strong>cer sua<br />

misericórdia. Quem menor que eu? Quem mais <strong>de</strong>sprezado?<br />

Porém, os monarcas da Terra escutaram meu conselho, e os<br />

sumos pontífices disseram que tenho pacto com Satanás<br />

porque <strong>de</strong>scobri todas as suas tramas e mais <strong>de</strong> uma vez<br />

<strong>de</strong>sbaratei seus iníquos planos. Eu... eu, tão pobre, pois são<br />

mais os dias que passei fome que os que me <strong>de</strong>itei saciado.<br />

Querer é po<strong>de</strong>r. A vida, a gran<strong>de</strong>za da vida não é um mito! O<br />

que se necessita é vonta<strong>de</strong>. Eu tive essa vonta<strong>de</strong>, por isso vivi<br />

livre, por isso me tornei superior a todas as contrarieda<strong>de</strong>s que

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