09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

me via, fugia assustada, chorando <strong>de</strong>scoatroladamente. Era<br />

muito bonita. No dia em que completou quinze anos, eu a<br />

encontrei à tar<strong>de</strong> em meus jardins e notei que, ao me ver, se<br />

afastou. Então, <strong>de</strong>i or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>tivesse e perguntei a<br />

ela: "Por que foges?" E ela respon<strong>de</strong>u tremendo: "Porque o<br />

senhor me dá medo" Eu não soube o que lhe dizer, e Elísea,<br />

aproveitando meu silêncio, partiu. Um ano <strong>de</strong>pois, seu pai me<br />

pediu permissão para casar sua filha; eu lha concedi, e quis<br />

honrar seu casamento com minha presença. Naquele dia não<br />

inspirei medo a Elísea porque ela só olhava para seu jovem<br />

esposo.<br />

"Des<strong>de</strong> aquele dia, eu a quis e <strong>de</strong>sejei que ela me quisesse,<br />

mas quantos esforços fiz, todos em vão! Sempre que se dirigia<br />

a mim, ela me dizia: 'Ontem o senhor me inspirava medo e hoje<br />

me causa horror, mas um horror invencível,' e me olhava <strong>de</strong> um<br />

modo que me <strong>de</strong>ixava gelado.<br />

"Assim prosseguimos, até que meu amor se transformou em<br />

ódio feroz, e eu disse a ela: 'Esperei muito tempo, mas te<br />

<strong>de</strong>volverei dia por dia as humilhações que me fizeste sofrer! E<br />

man<strong>de</strong>i seu marido levar umas cartas; e, no caminho, ele caiu<br />

do cavalo, para não levantar mais. Fui até o nefasto local e fiz<br />

que a conduzissem ao mesmo lugar. Indo ao seu encontro,<br />

disse-lhe: 'Vem ver tua obra. Tu me <strong>de</strong>sprezaste durante cinco<br />

anos, e estive em meu direito vingando-me <strong>de</strong> teu <strong>de</strong>sdém. Vai<br />

encontrar teu ma-<br />

rido! Ela correu ansiosa e, ao ver o corpo <strong>de</strong> seu<br />

companheiro, abraçou-se a ele e olhou para mim soltando uma<br />

horrível gargalhada. E, com uma força incompreensível para<br />

mim, pegou o corpo pela cabeça e, com a rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> um raio,<br />

arrastou-o até um <strong>de</strong>spenha<strong>de</strong>iro próximo e se jogou ao<br />

abismo, sem parar <strong>de</strong> rir com aquela risada que fazia<br />

estremecer as montanhas. E os dois corpos foram rolando até<br />

se per<strong>de</strong>r no fundo, sem que Elísea morresse <strong>de</strong> vez, porque<br />

não parava <strong>de</strong> rir! Com aquela risada horripilante que é preciso<br />

ouvir para compreen<strong>de</strong>r todo o horror que encerra. E, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então, aquela risada maldita ecoa em meus ouvidos. E não<br />

posso viver. E à noite vejo a trilha da montanha com a grama<br />

seca. E passando por ela contemplo os corpos <strong>de</strong> Elísea e seu<br />

marido, e ela parece que não morreu, porque <strong>de</strong> vez em

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!