09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Minha filha, tua missão é muito gran<strong>de</strong> e, na verda<strong>de</strong>,<br />

aqueles que vêm como tu não vêm para ser intimamente<br />

felizes, porque a felicida<strong>de</strong> terrena tem muito <strong>de</strong> egoísta.<br />

Eu não sei a que vim, padre <strong>Germano</strong>, mas lhe direi que<br />

sempre sonhei em fazer bem. Que o amei porque sempre o vi<br />

disposto a se sacrificar pelos outros. E me propus a seguir sua<br />

gran<strong>de</strong> obra. Uma vez, como se sonhasse, vi uns olhos<br />

gran<strong>de</strong>s fixos em mim. Um dia, esta al<strong>de</strong>ia chorava sua<br />

ausência; chegou um homem e corri a seu encontro para lhe<br />

pedir sua liberda<strong>de</strong>. Eu o olhei e ele olhou para mim, e vi que<br />

os olhos daquele homem eram os que eu via em meu sonho, e<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquele instante jurei ser mãe sem filhos do corpo, e que<br />

todas as crianças órfãs que eu conhecesse seriam os filhos <strong>de</strong><br />

minha alma.<br />

"O senhor me disse muitas vezes que o homem não tem<br />

mais gozos que aqueles que conquistou em vidas anteriores.<br />

Nós, sem dúvida, ontem olhamos com criminosa indiferença<br />

para o santuário do lar doméstico. E por isso, hoje, o senhor<br />

consumiu sua vida e eu consumirei a minha sonhando com<br />

essa existência divina, com esse olhar inebriante <strong>de</strong> uns olhos<br />

amantes que prometem uma eterna felicida<strong>de</strong>."<br />

- Tens razão, Maria; resta-nos o amanhã.<br />

E sentindo-me cansado, voltei à reitoria. A confissão <strong>de</strong><br />

Maria me <strong>de</strong>u muito em que pensar, pois, embora eu houvesse<br />

compreendido que o rei a amava, ignorava que ele fosse a<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus sonhos. E vejo nesse amor mútuo algo <strong>de</strong><br />

provi<strong>de</strong>ncial. Esse amor não é <strong>de</strong> hoje. A alma <strong>de</strong> Maria é<br />

gran<strong>de</strong>, muito gran<strong>de</strong>, e a do rei pequena, muito pequena. E<br />

esses dois espíritos não po<strong>de</strong>m se fundir em um puramente<br />

pela atração atual. Como, se são duas forças que se repelem<br />

na atualida<strong>de</strong>? O amor <strong>de</strong>la não po<strong>de</strong> ser ao homem<br />

impossível. Será melhor sua compaixão pelo espírito. É que<br />

neste mundo, como se vê apenas a parte infínitesimal das<br />

coisas, a tudo se dá o nome <strong>de</strong> amor. E quantas vezes as<br />

paixões daqui não são mais que expiações dolorosas, saldos<br />

<strong>de</strong> contas e obsessões terríveis nas quais o espírito quase<br />

sempre é vencido na prova, sendo a mulher a que mais sofre,<br />

porque é um ser sensível, apaixonado, compa<strong>de</strong>ce-se logo e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!