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Memórias de Padre Germano

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- Saia, senhora.<br />

E, quando ficamos sozinhos, aliviou sua consciência,<br />

dizendo por fim:<br />

- Não posso jurar, mas tenho quase certeza <strong>de</strong> que estou<br />

morrendo envenenado, e creio que minha mulher é a autora do<br />

crime. Deixo uma filha, que não sei se é minha filha, mas o<br />

feito feito está. Não quero escândalos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> minha morte,<br />

porque, <strong>de</strong> qualquer maneira, Deus me vingará. Nem quero<br />

<strong>de</strong>serdar uma criatura que não sei se algum laço a une a mim e<br />

que, <strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> outro, é inocente. Deus tenha<br />

misericórdia da vitima e dos assassinos!<br />

E expirou em meus braços aquele <strong>de</strong>sventurado, que<br />

morreu duvidando, sem se atrever a con<strong>de</strong>nar.<br />

Sua jovem viúva <strong>de</strong>monstrou uma dor extrema e gastou<br />

gran<strong>de</strong>s somas em luxuosos e repetidos funerais. Algum tempo<br />

<strong>de</strong>pois, contraiu novo matrimônio, sem que por isso <strong>de</strong>ixasse<br />

<strong>de</strong> celebrar todos os anos exéquias em memória <strong>de</strong> seu<br />

primeiro esposo.<br />

Vinha com frequência ouvir a missa que eu celebrava,<br />

quando os pássaros dizem “glorificado seja o Senhor‟; e ficava<br />

sozinha rezando com fervorosa <strong>de</strong>voção. Em particular, no<br />

verão, não faltava nem um único dia à missa do alvorecer, pois<br />

vivia perto <strong>de</strong> minha al<strong>de</strong>ia, em uma fazenda magnífica. Sua<br />

filha mais velha recebeu <strong>de</strong> minhas mãos, pela primeira vez, o<br />

pão da vida. 2 E sempre que via aquela menina eu me lembrava<br />

da confissão <strong>de</strong> seu pai.<br />

A inocente Raquel me dava pena, porque, em suas infantis<br />

confissões, se queixava <strong>de</strong> que sua mãe não lhe <strong>de</strong>monstrava<br />

nenhum carinho, e ela, ofendida, também não a podia amar.<br />

Eu, que sempre fui avesso a receber a confissão <strong>de</strong><br />

qualquer um, da mãe <strong>de</strong> Raquel, a baronesa G., <strong>de</strong>sejava ouvir<br />

sua história. Meu coração pressentia algo terrível naquela<br />

mulher.<br />

2 Nota da editora: Refere-se o autor à hóstia recebida em sua primeira<br />

comunhão.

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