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Memórias de Padre Germano

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infames calúnias. Tudo calei para que ele ficasse livre.<br />

Companheiro <strong>de</strong> minha infância, eu o amava com toda minha<br />

alma, e lhe <strong>de</strong>i provas <strong>de</strong> meu carinho quando tive ocasião<br />

propícia. Felizmente, ele não foi ingrato, acaba <strong>de</strong> me<br />

<strong>de</strong>monstrar.<br />

Eu cheguei à corte sem saber a quem me dirigir, porque os<br />

penitentes negros têm espiões e famílias em todos os lugares.<br />

Parecem o vento: não há lugar on<strong>de</strong> eles não penetrem.<br />

Lembrei-me <strong>de</strong> César, e fui vê-lo. Ele me recebeu com os<br />

braços abertos e, quando soube da causa que me obrigava a<br />

lhe pedir auxílio, não ocultou <strong>de</strong> mim seu triste espanto,<br />

dizendo: "Pe<strong>de</strong>s quase o impossível, e, acima <strong>de</strong> tudo, pe<strong>de</strong>s<br />

tua sentença <strong>de</strong> morte e a minha. Mas tenho uma gran<strong>de</strong><br />

dívida contraída contigo, e é muito justo que te pague. Faz<br />

muitos anos que, se vivo, é por ti. Se morrer agora, terei te<br />

<strong>de</strong>vido mais <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> vida".<br />

E durante dois meses César e eu trabalhamos<br />

<strong>de</strong>sesperadamente, revolucionamos o globo inteiro até<br />

conseguir saber on<strong>de</strong> Clotil<strong>de</strong> estava enclausurada. Tudo<br />

aconteceu como eu imaginava: os duques <strong>de</strong> San Lázaro e seu<br />

filho morreram no cadafalso, como exemplo aos traidores, e<br />

não coube a mesma sorte a Clotil<strong>de</strong> porque o general da<br />

or<strong>de</strong>m dos penitentes negros pediu misericórdia para ela, e o<br />

rei lha conce<strong>de</strong>u por consi<strong>de</strong>ração ao <strong>de</strong>mandante.<br />

Quanta iniqüida<strong>de</strong>! Isso é horrível! 0 assassino pediu<br />

misericórdia para sua vítima! Quanto sofri, Senhor, quanto<br />

sofri! Mas César me dizia: "Tem paciência. Se nos<br />

impacientarmos, per<strong>de</strong>remos tudo. Não te iludas, eles são<br />

muitos. Essa associação é como a hidra da fábula: <strong>de</strong> nada<br />

serve que lhe cortem uma cabeça, porque outras mil se<br />

reproduzem. O que necessitamos, acredita, é <strong>de</strong> muito ouro.<br />

De outra maneira nada conseguiremos'! Eu, pobre <strong>de</strong> mim, não<br />

tinha ouro, mas Rodolfo sim. E graças ao céu ele entrou no<br />

bom caminho e pôs à disposição <strong>de</strong> César seus ricos tesouros,<br />

e por fim uma noite pu<strong>de</strong>mos entrar em uma sombria fortaleza,<br />

César, vinte homens armados e eu. Cada homem daqueles<br />

havia exigido uma fortuna para sua família, porque entrar em<br />

uma das prisões dos penitentes negros é arriscar a cabeça,<br />

com todas as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> perdê-la.

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