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Memórias de Padre Germano

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ingratidão. Diga que não é amado, que os répro- bos são<br />

malditos <strong>de</strong> Deus. Ingrato! Ingrato! E o amor imenso do padre<br />

<strong>Germano</strong>, em nada consi<strong>de</strong>ra? E meu leal carinho também não<br />

o satisfaz? Diga.<br />

Se não me satisfaz? Certo, não me satisfaz, não. Porque eu<br />

os amo, você é a primeira mulher a quem olhei com religioso<br />

respeito. Sinto por você o que creio que teria sentido por minha<br />

mãe. E, ao mesmo tempo, gostaria que me amasse. Por outro<br />

lado, não sei como explicar a mim mesmo o que quero <strong>de</strong><br />

você, não sei o que quero, eu me envergonho <strong>de</strong> mim mesmo,<br />

e...<br />

Compreendo o que sente - disse Maria em tom melancólico.<br />

- Tem necessariamente que confundir os puríssimos afetos da<br />

alma com os torpes <strong>de</strong>sejos da matéria. Você não sabe mais,<br />

não bebeu nas puras águas do espiritualismo. Foi amamentado<br />

pela amargura do materialismo, e não conhece da vida suas<br />

múltiplas sensações. Encerra tudo na sensualida<strong>de</strong>; e o apetite<br />

da carne é um agente da natureza que faz um trabalho limitadíssimo.<br />

O gran<strong>de</strong> trabalho é o do espírito, e essa tarefa é a<br />

que eu quero que comece. Quero que ame, sim, e que se<br />

contente com esse amor da alma que purifica tudo que toca.<br />

Deus, que é tão gran<strong>de</strong>; Deus, que é tão bom; Deus, que é tão<br />

justo, vendo que você, como pedra <strong>de</strong>sprendida <strong>de</strong> altíssima<br />

montanha, vai rodando, rodando sem nunca encontrar o fundo<br />

do precipício; Deus, querendo que não se eternize no mal,<br />

porque há muitos séculos cai <strong>de</strong> abismo em abismo, fazendo<br />

uso <strong>de</strong> sua malfadada vonta<strong>de</strong>; Deus o <strong>de</strong>tém hoje, pondo ao<br />

seu lado dois espíritos <strong>de</strong> luta, o padre <strong>Germano</strong> e eu. Dois<br />

espíritos que já sabem como se cai, como se morre e como se<br />

ressuscita. Também caímos como você, o remorso também<br />

nos fez morrer. Também como você vivemos sozinhos. Reflete,<br />

olha como vivemos ainda sozinhos... intimamente sozinhos...<br />

vivemos para os outros, sem guardar para nós nem um átomo<br />

<strong>de</strong> vida. Sabe por quê? Porque, sem dúvida, ainda não somos<br />

dignos <strong>de</strong> ser felizes.<br />

Pois se vocês não merecem a felicida<strong>de</strong>, que merecerei eu?<br />

- perguntou Rodolfo com abatimento.

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