09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

quência pernoitar na al<strong>de</strong>ia, certos <strong>de</strong> encontrar favorável<br />

acolhida. Tudo isso reclamava minha presença e me afastava<br />

<strong>de</strong> meus lugares prediletos. Porque eu gostava <strong>de</strong> ir muito<br />

longe do povoado. Gostava <strong>de</strong> admirar o trabalho <strong>de</strong> Deus sem<br />

que a mão do homem houvesse posto sua marca.<br />

Queria ver a natureza com seus bosques sombrios, com<br />

suas alegres pra- darias atapetadas <strong>de</strong> musgo e bordadas <strong>de</strong><br />

flores, com seus riachos límpidos como os olhares das<br />

crianças, e retorcidos como as intenções do malvado, com<br />

suas impetuosas correntes, com suas rochas cobertas <strong>de</strong><br />

silvestres trepa<strong>de</strong>iras, com todos os seus agrestes atrativos.<br />

Assim a obra <strong>de</strong> Deus me parecia mais bela. Para mim, Deus<br />

sempre foi o divino artista a quem adorei estudando os<br />

infusórios e aspirando o perfume das humil<strong>de</strong>s violetas.<br />

Quando podia reservar alguns momentos para mim, ia para<br />

o campo e, apesar <strong>de</strong> meu organismo ser muito frágil, como<br />

por encanto adquiria força e, como se fosse uma criança, saía<br />

correndo, mas em uma corrida tão rápida, com velocida<strong>de</strong> tão<br />

vertiginosa que meu fiel Sultão tinha dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> me<br />

alcançar. Chegava ao topo <strong>de</strong> uma montanha, sentava-me,<br />

olhava em volta <strong>de</strong> mim e, ao me ver sozinho, respirava<br />

melhor, sentia um prazer inexplicável, e me entregava, mas<br />

não a uma extática contemplação, porque o êxtase não serve<br />

para nada. O que me acontecia é que, ao me ver cercado <strong>de</strong><br />

tantas belezas, refletia e dizia: "Aqui tudo é gran<strong>de</strong>,<br />

maravilhoso. Só eu sou o ente pequeno e vulgar, pois é<br />

necessário que o habitante seja digno da casa que lhe<br />

conce<strong>de</strong>ram, que lhe <strong>de</strong>stinaram".<br />

E como nunca faltavam <strong>de</strong>safortunados a quem amparar,<br />

ocupava- me <strong>de</strong>senvolvendo um plano para realizar uma<br />

empreitada, e nunca tinha tanta luci<strong>de</strong>z como quando ia para o<br />

campo e me entregava a pensar no porvir dos <strong>de</strong>serdados.<br />

Naqueles momentos cumpria-se em mim o provérbio<br />

evangélico: "A fé move montanhas" Porque o que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

minha igreja me parecia impossível realizar, ali ficava simples,<br />

sem que o menor obstáculo se interpusesse a meu <strong>de</strong>sejo. E<br />

então, quão satisfeito voltava a minha al<strong>de</strong>ia! Já não corria; ia

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!