09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Temeis a chegada <strong>de</strong> alguém? - perguntou-me o recémchegado,<br />

a quem chamarei <strong>de</strong> Lulio.<br />

Temo por vós, não por mim. Li em vossos olhos que vin<strong>de</strong>s<br />

fugindo, não <strong>de</strong> assuntos <strong>de</strong>sagradáveis, mas <strong>de</strong> uma prisão<br />

certa. Mas não temais, pois, muito antes que cheguem os<br />

guardas do rei, Sultão nos anunciará sua chegada e po<strong>de</strong>reis<br />

fugir, ou escon<strong>de</strong>r-vos na caverna da ermida.<br />

Que estais dizendo? Delirais, sem dúvida. Eu não tenho que<br />

fugir <strong>de</strong> ninguém. Venho incógnito porque quero estar tranqüilo<br />

e quero ser, por alguns dias, o padre <strong>de</strong>sta al<strong>de</strong>ia.<br />

A igreja e a pobre casa estão a vossa disposição, mas não o<br />

confessionário, não a intimida<strong>de</strong> com meus fiéis, porque bem<br />

sabeis, padre Lulio, que vós e eu nos conhecemos muito bem.<br />

Juntas passaram vossa infância e minha juventu<strong>de</strong>. Sei os<br />

vícios que ten<strong>de</strong>s, conheço vossa história tanto quanto a<br />

minha. E não permitirei que nesta pobre al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>ixeis o germe<br />

da intranqüilida<strong>de</strong>. Se não vin<strong>de</strong>s mais que por capricho, quase<br />

me atreveria a vos suplicar que <strong>de</strong>sistísseis <strong>de</strong> vosso empenho<br />

e tomásseis outro rumo. Mas se, como creio, vin<strong>de</strong>s por<br />

necessida<strong>de</strong>, contai comigo, com meu velho Miguel e com meu<br />

fiel Sultão. Sei que começais a cair em <strong>de</strong>sgraça. Sei que um<br />

nobre ancião vos amaldiçoou e uma pobre mulher adúltera<br />

geme em um convento recordando, aterrada, seu fatal extravio.<br />

Sei que o rei quer aplicar a vós um castigo exemplar e começa<br />

confiscando parte <strong>de</strong> vossos bens. E por mais que queirais<br />

negar, sei que sois perseguido.<br />

Pois vos informaram mal.<br />

Roguei a Deus que assim fosse.<br />

O que é verda<strong>de</strong> é que estou muito cansado da corte e<br />

quero ver se este tipo <strong>de</strong> vida que levais me agrada, para, caso<br />

goste, retirar-me do gran<strong>de</strong> mundo.<br />

E quão bem po<strong>de</strong>ríeis fazer! Vós sois rico, <strong>de</strong> nobre<br />

linhagem. Ten<strong>de</strong>s parentes po<strong>de</strong>rosos dispostos a fazer o bem.<br />

Quantas lágrimas po<strong>de</strong>ríeis enxugar! Quantas misérias<br />

po<strong>de</strong>ríeis socorrer! Nunca é tar<strong>de</strong> para se arrepen<strong>de</strong>r. Deus<br />

sempre acolhe todos os Seus filhos; e cre<strong>de</strong>, Lulio, na carreira<br />

do sacerdócio não vais pelo bom caminho. O sacerdote <strong>de</strong>ve

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!