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Memórias de Padre Germano

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Se há algo <strong>de</strong>pois, diz? - exclamou Maria. - Não há algo,<br />

não; o que nos espera é o todo. Essa vida que você leva não é<br />

mais que uma milioné- sima parte <strong>de</strong> um segundo no relógio da<br />

eternida<strong>de</strong>.<br />

Diz o mesmo que padre <strong>Germano</strong>. E quero, quero acreditar<br />

nos dois. Mas, às vezes, eu confesso, creio que <strong>de</strong>liram.<br />

Escute-me - disse Maria. - Reconhece no padre <strong>Germano</strong><br />

uma gran<strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> moral sobre você?<br />

Sim, reconheço. Como não hei <strong>de</strong> reconhecer?<br />

E por que, se ele e você nasceram do mesmo modo, se<br />

passaram pela infância, pela juventu<strong>de</strong>, e chegaram à ida<strong>de</strong><br />

madura, ele pô<strong>de</strong> refrear suas paixões, e você foi dominado<br />

pelas suas, e que o venceram, afundando-o na <strong>de</strong>gradação?<br />

Por que para ele, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, a luz, e para você, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

nascimento, a sombra? Essa notabilíssima diferença não diz<br />

algo a seus sentidos? Não lhe <strong>de</strong>nuncia um progresso<br />

anterior? Uma vida começada antes, continuada agora, e que<br />

continuará <strong>de</strong>pois? Pensa que a existência do homem se<br />

reduzirá a alguns anos <strong>de</strong> loucura e, após um breve prazo, o<br />

nada e o esquecimento, ou o juízo final e a última sentença<br />

sem apelação? Não vê que isso é impossível?<br />

Impossível? - replicou Rodolfo. - Como posso saber? Mas é<br />

certo que os que vâo não voltam.<br />

Ao dizer isso, um violento espasmo sacudiu todo seu ser e<br />

seu rosto se contraiu. Apoiou o <strong>de</strong>do indicador em seus lábios<br />

como se nos reco-<br />

mendasse silêncio, e escutou aterrado algo que ecoou para<br />

ele. Levantou- se, correu pelo aposento em todas as direções,<br />

como quem foge <strong>de</strong> uma sombra. Maria e eu conseguimos<br />

<strong>de</strong>tê-lo. Fiz que se sentasse, apoiei sua cabeça em meu peito e<br />

Maria se pôs diante <strong>de</strong>le, dizendo:<br />

Rodolfo! Rodolfo! O que você tem? Volte a si.<br />

Os mortos voltam, que horror! - enfatizou Rodolfo com<br />

espanto, e abraçou-se a mim como se fugisse <strong>de</strong> um fantasma.<br />

Maria pôs as mãos em sua cabeça e parecia que saíam <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>dos raios luminosos, soltando partículas <strong>de</strong> luz. Meu

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