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Memórias de Padre Germano

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sólida sem faltar a nenhum <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>veres, sem permitir que<br />

aqueles que lhe pe<strong>de</strong>m conselho faltem aos seus; aquele que<br />

sabe esperar, não duvi<strong>de</strong>m, é quem obtém melhor colheita.<br />

Eu soube esperar; essa foi toda minha ciência. Pela falta <strong>de</strong><br />

premedita- ção, por minha orfanda<strong>de</strong>, por diversas<br />

circunstâncias, eu me consagrei à Igreja, e ainda não havia<br />

acabado <strong>de</strong> pronunciar meus votos quando compreendi<br />

claramente que minha vida seria um inferno, mas pensei:<br />

"Ministro do Senhor quiseste ser, e ministro serás. Não<br />

esperes, por enquanto, ser feliz; em outra oportunida<strong>de</strong> serás'!<br />

E não pensem que eu era ascético em meus costumes, não.<br />

Fui um homem amantíssimo da família e da boa vida. Sempre<br />

olhei com horror os cilícios e as austerida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> algumas<br />

or<strong>de</strong>ns religiosas. Fui parco em meus alimentos por questão <strong>de</strong><br />

higiene e <strong>de</strong> pobreza ao mesmo tempo; amante da limpeza e<br />

do bom gosto; quando pequeno, sempre procurei me cercar <strong>de</strong><br />

objetos agradáveis. Tive um medo inexplicável da morte<br />

violenta; só uma vez, em uso <strong>de</strong> meu sagrado ministério, <strong>de</strong>i<br />

assistência a um con<strong>de</strong>nado à morte até acompanhá-lo ao<br />

patíbulo e, quando o vi morrer, senti uma dor tão aguda em<br />

todo meu ser, minhas têmporas pulsaram com tanta violência<br />

que, fugindo <strong>de</strong> mim mesmo, lancei-me em uma corrida<br />

vertiginosa por mais <strong>de</strong> duas horas, até cair <strong>de</strong>sfalecido, e<br />

todos que me cercavam acreditavam que eu havia<br />

enlouquecido.<br />

Eu amava a vida e amava a morte, mas queria morrer<br />

tranqüilo em meu leito, cercado <strong>de</strong> amigos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver<br />

consagrado longos anos ao progresso <strong>de</strong> meu espírito. Se com<br />

minha morte voluntária eu <strong>de</strong>vesse conseguir minha salvação,<br />

ou o engran<strong>de</strong>cimento, ou a criação <strong>de</strong> uma escola filosófica ou<br />

religiosa, não sei quantos séculos teria necessitado para me<br />

convencer <strong>de</strong> que seria benéfico e até necessário entregar meu<br />

corpo à justiça humana. Quanto à <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Sócrates e a<br />

abnegação <strong>de</strong> Cristo e a <strong>de</strong> tantos milhões <strong>de</strong> mártires que<br />

com seu sangue fecundaram a superfície da Terra, sempre as<br />

admirei, as respeitei, mas nunca senti o menor <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

seguir seus gloriosos passos. Jamais, nem em minha última<br />

encarnação, nem em minhas vidas anteriores. E lhes confesso<br />

essa gran<strong>de</strong> fraqueza <strong>de</strong> espírito para que vocês possam ver

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