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Memórias de Padre Germano

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Ah, por que me filiei a ti? Por que fui tão cego? Porque a<br />

solidão é muito má conselheira, e eu vivi tão sozinho!<br />

Abandonado por minha mãe, busquei na Igreja o carinho<br />

matemal. Mas essa segunda mãe também me rejeitou quando<br />

lhe disse o que sentia, quando me proclamei apóstolo da<br />

verda<strong>de</strong>. Ela me chamou <strong>de</strong> filho espúrio, me qualificou <strong>de</strong><br />

apóstata e afastou <strong>de</strong> seu seio como a prostituta afasta o filho<br />

que a estorva. Sem dúvida, em outras vidas <strong>de</strong>vo ter sido um<br />

mau filho, já que agora me vi con<strong>de</strong>nado a viver sem mãe.<br />

E eu amo a Igreja. Sim, eu a amo, e porque a amo gostaria<br />

<strong>de</strong> vê-la <strong>de</strong>spojada <strong>de</strong> suas ricas e perecíveis vestes. E não<br />

gostaria <strong>de</strong> ver seus sacerdotes em trajes <strong>de</strong> púrpura e em<br />

marmóreos palácios. Preferiria que habitassem choças; que<br />

fossem felizes cercados <strong>de</strong> uma família amorosíssima, e que<br />

seus indivíduos pu<strong>de</strong>ssem dizer ao mundo: Este é meu pai, e<br />

aquela é minha mãe. E porque disse a meus superiores meus<br />

<strong>de</strong>sejos, porque no dia <strong>de</strong> minha primeira missa me apresentei<br />

dizendo a verda<strong>de</strong>, no dia seguinte à cerimônia o general dos<br />

penitentes negros me disse: - Vai embora, foge, porque tua<br />

palavra está inspirada pelo inimigo <strong>de</strong> Deus! Tu recebes<br />

inspirações <strong>de</strong> Lúcifer e não po<strong>de</strong>s estar com os servos do<br />

Altíssimo. Mas para que não se diga que tua mãe, a Igreja, te<br />

abandona, ocuparás um posto <strong>de</strong> pároco em uma al<strong>de</strong>ia.<br />

Antes <strong>de</strong> ir ao meu <strong>de</strong>stino, sofri o exílio, a fome, a calúnia<br />

e, sem saber por que, quando chegou o momento <strong>de</strong> tomar<br />

posse <strong>de</strong> minha pequena igreja, senti frio. Cheguei ao lugarejo,<br />

que estava situado em um vale cercado <strong>de</strong> altíssimas<br />

montanhas, e só se via um pedaço <strong>de</strong> céu sempre coberto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>nsa bruma. Ali a natureza não falava à alma, não havia lindas<br />

paisagens que elevassem o espírito e o conduzissem à<br />

contemplação do infinito. Porém, havia lindíssimas mulheres<br />

que guardavam em seus olhos toda a cor azul que faltava<br />

naquele céu.<br />

Fui recebido com palmas e ramos <strong>de</strong> oliveira, e todas as<br />

jovens daqueles vales vieram rapidamente me confiar seus<br />

segredos. E, ao ouvi-las, ao ver como o fanatismo as<br />

dominava, dizendo a um homem jovem que não conheciam<br />

aquilo que tinham vergonha <strong>de</strong> confiar a suas mães; ao ver<br />

aquela profanação que o costume autorizava; ao me ver jovem,

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