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Memórias de Padre Germano

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pequenos braços. Eu emu<strong>de</strong>ci por alguns momentos, fascinado<br />

com os gestos da menina, que fazia esforços para vir a mim.<br />

Falava com sua mãe, ges-<br />

ticulava, apontava para o lugar on<strong>de</strong> eu estava, e naquele<br />

instante esqueci tudo, tudo! Em meio àquela compacta<br />

multidão eu só via uma mulher e uma menina.<br />

Que mistérios guarda a vida! Aquela mesma menina foi a<br />

que <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois me perguntou, antes <strong>de</strong> se aproximar pela<br />

primeira vez da mesa do Senhor: "<strong>Padre</strong>, amar é ruim?" Aquela<br />

terna criatura que em sua inocência queria aten<strong>de</strong>r ao meu<br />

chamado foi a que <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois se prostrou diante <strong>de</strong> meu<br />

confessionário, e o perfume dos brancos jasmins que coroavam<br />

sua fronte transtornou por um momento minha razão.<br />

Aquele anjo que me estendia seus braços era a menina pálida,<br />

a dos cachos negros, em cujo coração, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenina,<br />

minha voz encontrou o mais doce eco. Quão longe estava eu<br />

então <strong>de</strong> pensar que o túmulo daquela menina haveria <strong>de</strong> ser<br />

meu santuário!<br />

Ao ver que as crianças respondiam ao meu chamado, senti<br />

um prazer inexplicável, e prossegui dizendo:<br />

- Ve<strong>de</strong>s? Ve<strong>de</strong>s como as criancinhas já ouvem minha voz?<br />

É porque pressentem que eu serei para elas um enviado <strong>de</strong><br />

paz. Sim, as crianças, os puros <strong>de</strong> coração, serão os amados<br />

<strong>de</strong> minha alma, para eles será o mundo do amor que meu<br />

espírito guarda.<br />

Religião, religião do Crucificado, religião <strong>de</strong> todos os<br />

tempos, tu és verda<strong>de</strong> quando não te enclausuram nos<br />

mosteiros nem nas igrejas pequenas! E falei tanto, tanto, e com<br />

tão íntimo sentimento, que dominei por completo meu auditório,<br />

e até os penitentes negros pararam <strong>de</strong> me olhar com ira.<br />

Quando parei <strong>de</strong> falar, a multidão tomou <strong>de</strong> assalto a<br />

escada do púlpito e me aplaudiu frenética, <strong>de</strong>lirante.<br />

Aclamaram-me como enviado do Eterno, porque a voz da<br />

verda<strong>de</strong> sempre encontra eco no coração do homem.<br />

E quem era eu? Um pobre ser abandonado por seus<br />

próprios pais. Quem mais pobre que eu? Mas em minha<br />

extrema pobreza sempre fui rico, muito rico, porque nunca o

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