09.05.2013 Views

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

Memórias de Padre Germano

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Depois <strong>de</strong> percorrer vários caminhos subterrâneos, <strong>de</strong>baixo<br />

do <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> água, em um lugar lodoso por conta das<br />

constantes infiltrações, distinguimos um pequeno vulto<br />

encostado na pare<strong>de</strong>. Inclinamo- nos, e foi muito difícil<br />

reconhecer Clotil<strong>de</strong> naquele esqueleto. César foi o primeiro a<br />

reconhecê-la. Eu peguei sua mão, dizendo: "Clotil<strong>de</strong>, minha<br />

filha, vem que tua ama te espera'! A pobre olhou para mim com<br />

espanto, viu meus trajes e, ao ver meu hábito negro, rejeitoume<br />

com as poucas forças que lhe restavam, dizendo: "Mata-me<br />

<strong>de</strong> uma vez, mas não conseguirás que eu vá contigo, monstro<br />

execrável! Eu te o<strong>de</strong>io, te o<strong>de</strong>io com todo meu coração! Queres<br />

me atormentar como outra noite? Queres que morra<br />

novamente <strong>de</strong> vergonha e <strong>de</strong> dor? Eu te o<strong>de</strong>io, enten<strong>de</strong>?<br />

O<strong>de</strong>io! Maldito sejas!" E a infeliz chorava e ria ao mesmo<br />

tempo, e não era possível convencê-la.<br />

César falava, ela o escutava por um momento, mas logo me<br />

olhava e dizia: "Estás mentindo! Se não mentisses, não virias<br />

com esse homem negro" e a viva força, abafando seus gritos,<br />

temendo a cada momento que seus gemidos nos <strong>de</strong>latassem,<br />

por fim saímos da prisão e fomos <strong>de</strong>slizando como sombras ao<br />

longo do bosque até chegar ao vale, on<strong>de</strong> nos esperavam<br />

briosos cavalos, que a galope nos conduziram à casa <strong>de</strong> um<br />

guarda do bosque, fiel servidor <strong>de</strong> César.<br />

Colocamos Clotil<strong>de</strong> em um leito e a <strong>de</strong>ixamos aos cuidados<br />

da mulher do guarda, que se encarregou <strong>de</strong> trazê-la <strong>de</strong> volta à<br />

vida, porque a infeliz, dominada pelo terror, emu<strong>de</strong>ceu, e<br />

embora não tenha perdido os sentidos, ficou sem movimento.<br />

César e eu estávamos em um quarto contíguo escutando<br />

atentamente o que acontecia no quarto <strong>de</strong> Clotil<strong>de</strong>. Por fim a<br />

ouvimos soluçar; a seguir falou, e por último pediu para ver<br />

seus libertadores. César e eu entramos<br />

em seu aposento, e a pobre menina, ao me ver, juntou as<br />

mãos dizendo: "Perdão, eu estava louca, perdoa-me!"<br />

Infeliz criatura! Parece incrível que um corpo tão frágil como<br />

o <strong>de</strong>la tenha podido resistir a tantos tormentos. Suas<br />

revelações foram horríveis, a pluma cai <strong>de</strong> minha mão e não<br />

tenho coragem para fazer um relato <strong>de</strong>las.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!