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Memórias de Padre Germano

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acariciar meus sentidos. Meus olhos se fecham, mas se meu<br />

corpo se sente dominado pelo sono, meu espírito vela e se<br />

lança ao espaço, e eu a vejo, sempre linda, linda e sorri<strong>de</strong>nte,<br />

que me diz com ternura: "Termina tua jornada sem<br />

impaciência, sem fadiga; acalma teu íntimo afã, pois eu te<br />

espero, e a eternida<strong>de</strong> espera por nós!" E acordo ágil e leve,<br />

forte, cheio <strong>de</strong> vida. Levanto-me, beijo as flores que crescem<br />

vigorosas sobre os restos <strong>de</strong> seu envoltório e exclamo<br />

alvoroçado: "Senhor, tu és gran<strong>de</strong>! Tu és bom! Tu és<br />

onipotente porque é eterna a vida das almas, como eterna é<br />

tua divina vonta<strong>de</strong>!"<br />

Depois paro no túmulo <strong>de</strong> Lina e Gustavo, e sinto-me<br />

possuído por um mal-estar inexplicável. Vejo-o frenético,<br />

<strong>de</strong>lirante, rebelando-se contra seu <strong>de</strong>stino, rompendo<br />

violentamente os laços da vida, negando a Deus em sua fatal<br />

loucura, e ela possuída pelo mesmo frenesi, rindo com terrível<br />

sarcasmo da morte <strong>de</strong> sua felicida<strong>de</strong>, e nesse drama<br />

assustador, nessa horrível tragédia, há a febre da paixão<br />

chegada ao grau máximo da loucura; há o fatal egoísmo do<br />

homem, porque Gustavo se matou para não sofrer mais,<br />

convencido, pelo excesso <strong>de</strong> dor, <strong>de</strong> que sua ferida era<br />

incurável. Duvidou da misericórdia <strong>de</strong> Deus, para quem nada é<br />

impossível. Porque, quem sabe se no fim se teria curado? Ou<br />

levou em conta a dor imensa <strong>de</strong> Lina, apostou tudo, quis, em<br />

sua insensatez, pôr fim ao que fim não tem. E a <strong>de</strong>sventurada<br />

Lina, ferida na fibra mais sensível, também se esqueceu <strong>de</strong><br />

Deus e <strong>de</strong> mim. Não levou em conta sua fé cristã nem meus<br />

cuidados, nem meus ensinamentos, nem meu amor. Só em<br />

seu último olhar parecia que me pedia perdão pela funda ferida<br />

que <strong>de</strong>ixava em minha alma, ferida tão profunda que não<br />

po<strong>de</strong>rá cicatrizar na Terra.<br />

Ela e ele se entregaram aos braços do <strong>de</strong>sespero. Por isso<br />

em seu túmulo não posso sorrir. Porque suas sombras<br />

atribuladas <strong>de</strong>vem buscar uma à outra. E durante algum tempo<br />

não se verão, porque é <strong>de</strong>lito grave quebrar o cumprimento da<br />

lei. Todas as dores são merecidas, todas as agonias justificadas,<br />

e quem violentamente rompe os laços da vida<br />

<strong>de</strong>spertará nas sombras. Feliz o espírito que sofre resignado

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