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Memórias de Padre Germano

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e não me restou nenhuma dúvida <strong>de</strong> que Rodolfo, talvez com a<br />

conivência <strong>de</strong> Berta, havia matado aquele infeliz.<br />

Enterrei novamente o corpo, reguei com meu pranto a terra<br />

<strong>de</strong> sua sepultura e voltei para minha casa para sofrer uma<br />

aguda doença, porque a infâmia dos homens é o veneno mais<br />

ativo para as almas sensíveis.<br />

Não disse nada a ninguém sobre meu triste achado, porque<br />

nos crimes dos gran<strong>de</strong>s sempre os pequenos são as vítimas.<br />

Apenas escrevi a Rodolfo, e obtive o silêncio como resposta, e<br />

mais tar<strong>de</strong> uma perseguição impressionante <strong>de</strong> sua parte.<br />

Os anos se passaram, Rodolfo adquiriu renome e gran<strong>de</strong><br />

influência na Corte, e em todos os acontecimentos <strong>de</strong> minha<br />

vida ele teve participação, direta ou indiretamente. A verda<strong>de</strong> é<br />

que sempre que nos encontramos, seu olhar se fixou em mim<br />

com ódio feroz. Porque não consegue perdoar que eu saiba <strong>de</strong><br />

seus crimes. Ele para mim é um miserável, e isso o exaspera,<br />

porque se empenha em parecer impecável, pois ninguém é<br />

mais avaro <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s que aquele que não tem nenhuma.<br />

Entre Rodolfo e eu há um mistério. Ele me o<strong>de</strong>ia; quando<br />

me olha, vejo em seu olhar que lamenta não ter me<br />

estrangulado diante do corpo <strong>de</strong> seu pai, e ao mesmo tempo<br />

quando o fito, fecha os olhos, como <strong>de</strong>slumbrado, e foge <strong>de</strong><br />

mim com <strong>de</strong>sespero. Eu, porém, o amo. Por quê? Não sei.<br />

Algum laço terá nos unido em outras vidas? Quem sabe? Eu só<br />

posso explicar que, apesar <strong>de</strong> reconhecer nele um gran<strong>de</strong><br />

criminoso, amo-o, sim, com toda a minha alma, e no fundo <strong>de</strong><br />

meu coração há um mundo <strong>de</strong> ternura para ele e para o pobre<br />

menino que dorme ao pé do cedro da montanha.<br />

Muitas, muitas vezes, o pequeno assassinado <strong>de</strong>sperta<br />

minhas lembranças e em seu ignorado túmulo elevo uma<br />

oração a sua memória.<br />

Ultimamente, com a <strong>de</strong>scoberta do segredo e o mistério <strong>de</strong><br />

como Constantino <strong>de</strong> Hus passou os últimos anos <strong>de</strong> sua vida,<br />

Rodolfo é quem mais interesse <strong>de</strong>monstrou no assunto, porque<br />

encontrou uma ocasião propícia para me pôr a per<strong>de</strong>r, e quer<br />

aproveitá-la. Eu me encontro nos braços <strong>de</strong> Deus, e <strong>de</strong>ixo os

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