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Memórias de Padre Germano

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És um réptil miserável. Estás pensando em jogar tua baba<br />

peçonhenta em mim. Faz o que quiseres, pois tua filha está<br />

salva. Mas ai <strong>de</strong> ti se a perseguires! Então o confessor se<br />

transformará em juiz, e eu te <strong>de</strong>latarei ao rei. Bem sabes que<br />

conheço toda tua história, que, aliás, é horrível.<br />

Oh, pieda<strong>de</strong>, pieda<strong>de</strong>! - exclamou a con<strong>de</strong>ssa, aterrada.<br />

Fica calma, pobre mulher! Segue tua vida <strong>de</strong> agonia, pois és<br />

bem digna <strong>de</strong> compaixão, já que não há na Terra um ser que te<br />

possa abençoar. Continua erguendo casas <strong>de</strong> oração, mas<br />

enten<strong>de</strong> que as orações que tu pagas não servem para o<br />

<strong>de</strong>scanso <strong>de</strong> tua alma. Tua alma tem que gemer muito, porque<br />

quem com ferro fere, com ferro será ferido.<br />

A con<strong>de</strong>ssa olhou para mim espantada e saiu<br />

precipitadamente do aposento, enquanto eu recolhia<br />

tranqüilamente do chão os pedaços do pergaminho rasgado, e,<br />

como uma criança, os atirava ao ar pela janela. Os pedacinhos<br />

<strong>de</strong> papel voaram como borboletas e por fim se per<strong>de</strong>ram no pó<br />

do caminho. Então, sorri com melancólica satisfação ao ver<br />

meu espírito, <strong>de</strong>sprendido das misérias terrenas, entregar as<br />

riquezas mal adquiridas<br />

ao po<strong>de</strong>r do vento, à mercê da brisa, que, brincalhona,<br />

balançava as partículas do pergaminho. Horrorizava-me ao<br />

pensar que aquele documento po<strong>de</strong>ria ter caído em outras<br />

mãos. Pobre Angelina! Tão jovem, tão bela, tão ávida <strong>de</strong> viver<br />

e <strong>de</strong> ser feliz, eles a teriam sepultado no fundo <strong>de</strong> um claustro,<br />

e ali a infeliz teria enlouquecido negando a existência <strong>de</strong> Deus!<br />

E agora, que diferença! O marquês me escreve e me diz<br />

que é o mais feliz dos homens, que sua filha é um anjo, e<br />

Angelina me diz no final: "<strong>Padre</strong> <strong>Germano</strong>, como sou feliz!<br />

Quanto lhe <strong>de</strong>vo! Meu pai me adora, cerca-me <strong>de</strong> um luxo<br />

<strong>de</strong>slumbrante. Um jovem espanhol me ama e, se for possível,<br />

queremos receber sua bênção. Como é lindo viver! Eu<br />

pressentia a vida, eu sonhava com a felicida<strong>de</strong>. As vezes<br />

sonho que estou no convento, as mulheres dos hábitos negros<br />

me seguram, e eu começo a gritar chamando a meu pai e ao<br />

senhor, e minhas amas me acordam, e então choro <strong>de</strong> alegria<br />

porque me encontro nos braços <strong>de</strong> meu pai. Quanto lhe <strong>de</strong>vo,

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