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Memórias de Padre Germano

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Os penitentes não tardaram muito a <strong>de</strong>monstrar que me<br />

fariam pagar caro por minha ousadia. Fiquei expatriado três<br />

anos, sofrendo os horrores da mais impressionante miséria e a<br />

dor <strong>de</strong> uma aguda doença. Mas, quanto mais sofria, mais via<br />

em minha mente Lauro saindo do tribunal cercado <strong>de</strong> sua<br />

família e dizia a mim mesmo: "Aquele homem tem uma esposa<br />

que o adora e três anjos que lhe sorriem. Sem ele, esses<br />

quatro seres que vivem ao calor <strong>de</strong> sua ternura teriam morrido<br />

<strong>de</strong> frio. Se eu sucumbir, sou uma árvore morta que a ninguém<br />

po<strong>de</strong> dar sombra. E, além do mais, aquele homem era inocente<br />

e não <strong>de</strong>via morrer. Eu finalmente me rebelei, neguei minha<br />

aliança com os que me serviram <strong>de</strong> pai e me instruíram. Façase<br />

a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, pois é sempre justa!"<br />

E estava tão resignado a morrer que, quando recebi a carta<br />

<strong>de</strong> indulto, no primeiro instante quase me senti contrariado. Eu<br />

já disse antes que na vida normal era um ser praticamente<br />

apático; a luta incessante da vida me assustava, e eu havia<br />

acalentado por tanto tempo a idéia da morte que quase a<br />

amava. Um <strong>de</strong> seus poetas mais céticos cantou a morte.<br />

Busquem seu canto e acrescentem-no, se quiser<strong>de</strong>s, a estas<br />

linhas. Se não todo, algumas estrofes. Para mim, naquela<br />

ocasião, a morte era uma "ilha <strong>de</strong> repouso" como o poeta<br />

Espronceda a chamava, dizendo:<br />

Isla yo soy <strong>de</strong>i reposo en médio el mar <strong>de</strong> la vida, y el<br />

marínero allí olvida la tormenta que pasó; allí convidan al sue<br />

fio aguas puras sin murmullo, allí se duerme al arrullo <strong>de</strong> una<br />

brisa sin rumor.<br />

Soy melancólico sauce que su ramaje doliente inclina sobre<br />

la frente que arrugara el pa<strong>de</strong>cer, y aduerme al hombre, y sus<br />

sienes con fresco jugo rocia mientras el ala sombria bate el<br />

olvido sobre él.<br />

Soy la virgen misteriosa <strong>de</strong> los últimos amores, y ofrezco un<br />

lecho <strong>de</strong> flores, sin espina ni dolor, y amante doy mi carino sin<br />

vanidad nifalsía; no doy placer ni alegria, más es eterno mi<br />

amor.<br />

En mi la ciência enmu<strong>de</strong>ce, en mi concluye la duda y árida,<br />

clara, <strong>de</strong>snuda, ensefioyo la verdad; y <strong>de</strong> la vida y la muerte al

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