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Letras Vernáculas - EAD - Uesc

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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />

Gramática Gerativa: fundamentos epistemológicos básicos<br />

(8) a. Eu já voltei da escolinha.<br />

b. Eu tomei o suco.<br />

Nessa visão, a criança é considerada<br />

como um “pequeno linguista”, que observa e<br />

avalia diferentes conjuntos de regras para depois<br />

escolher aquele conjunto que corresponde<br />

melhor aos dados do input. Neste processo, a<br />

criança reconhece as (ir)regularidades e aproxima<br />

cada vez mais a sua linguagem ao modelo<br />

do falante adulto (língua-I). No caso de 8,<br />

está explícito o reconhecimento da existência<br />

de outros paradigmas verbais, possibilitando à<br />

criança corrigir as pequenas “falhas” ilustradas<br />

em 6a e 7a. Isto é resultado do desempenho do<br />

falante em relação ao uso efetivo de sua língua.<br />

Para ilustrar, ainda, o desempenho, veja os exemplos abaixo:<br />

(9) a. João comprou um carro novo.<br />

b. Um carro novo, João o comprou.<br />

c. Um carro novo João comprou.<br />

d. João, ele comprou um carro novo.<br />

e. João, um carro novo ele comprou.<br />

f. Um carro novo foi comprado por João.<br />

Embora os julgamentos atribuídos a essas sentenças possam<br />

ser variáveis, o que é interessante destacar é o fato de uma ideia ser<br />

representada a partir de diferentes estruturas sintáticas, todas elas<br />

permitidas pela gramática da língua portuguesa. O falante pode escolher<br />

uma ou mais de uma das estruturas. Suas escolhas evidenciam<br />

o seu desempenho diante das possibilidades de usos que a língua lhe<br />

apresenta.<br />

Para você entender melhor essa dicotomia, competência X desempenho,<br />

vamos recorrer a Negrão et al. (2003, p. 114) que exemplificam<br />

muito bem:<br />

(...) considerem-se, por exemplo, políticos e<br />

jornalistas habilidosos. Qualquer um de nós, falantes<br />

nativos de português, temos a mesma competência<br />

lingüística que eles. Nós, tanto quanto eles, temos<br />

os mesmos julgamentos a respeito das sentenças<br />

possíveis e impossíveis do português (...) Mas<br />

quantos de nós somos capazes de usar a língua de tal<br />

Conforme Mioto (1995), “a tese do inatismo causa<br />

menos espanto quando se consideram sentenças”<br />

como as que você vê neste contraste abaixo:<br />

a. João i disse que ele i gosta de maçã.<br />

b. *Ele i disse que João i gosta de<br />

maçã.<br />

Qualquer falante do português reconhece que b é<br />

agramatical, pois sabe que o pronome ele e João,<br />

na posição em que se encontram, não podem ser<br />

correferentes, ou seja, não se trata da mesma<br />

pessoa, como ocorre em a, onde o i subscrito<br />

indica que o referente das duas expressões é o<br />

mesmo, ou seja, João e ele são correferentes,<br />

dada a posição em que se encontram. Segundo<br />

Mioto, não é comum que a informação seja obtida<br />

por meio de outro falante, nem dos dados,<br />

pois uma sentença como b não é produzida com<br />

esta interpretação. E ainda completa: “do fato de<br />

que esse conhecimento independe do ambiente<br />

‘externo’ conclui-se então que são necessárias,<br />

para justificá-lo, as condições ‘internas’, as capacidades<br />

genéticas da espécie humana (p. 78).<br />

101 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>

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