Sintaxe da Língua Portuguesa A propósito desse tipo de representação, veja o que diz Lemle (1989, p. 95): A representação gráfica da estrutura sentencial através dos diagramas tem a vantagem de reunir numa só imagem dois tipos de informação: os nós terminais da árvore fornecem a categoria lexical de cada uma das palavras da sentença e os nós-não terminais descrevem a maneira pela qual as palavras se ligam umas às outras, formando camadas de sintagmas cada vez mais abrangentes. De forma mais simples, pode-se dizer que, em 3, O é “pai” de SN sujeito e SV. Estes dois, por sua vez, são “irmãos”. O SN objeto, que é filho de SV, é neto de O. Se este SN objeto gerasse um outro constituinte, este seria bisneto de O, e, assim, as relações de parentesco vão sendo determinadas, por uma relação imediata ou não. Estamos vendo aqui, nesta seção, duas relações formais básicas entre os constituintes: a relação linear de precedência e a relação inclusiva de dominância, definidas assim por Raposo (1992, p. 73 e 74): a relação de dominância ocorre quando há uma sequência conexa de um ou mais ramos entre um nó O e outro SV-SN objeto e o percurso de um a outro através desses ramos for unicamente descendente. Será uma dominância imediata se não existir nós intermediários: por exemplo: O domina imediatamente SV e não domina imediatamente SN objeto. Já a relação linear de precedência é assim definida: um nó (do tipo x) precede um outro (do tipo y) se este estiver à esquerda do nó do tipo x e não houver uma relação de inclusão ou intersecção entre eles. Ou seja, um não domina o outro e vice-versa. Em 3, pode-se dizer que o sujeito precede o verbo, já que o verbo está a sua direita e ambos não têm domínio um sobre o outro. Segundo Raposo, “o modo como as relações de dominância e precedência são definidas implica que os membros de qualquer par de nós numa árvore se encontram ou numa relação de dominância ou numa relação de precedência, mas nunca nas duas simultaneamente” (p.74). A organização e a constituição das sentenças: aprendendo a “plantar árvores” - Parte I Como você pode observar, cada constituinte corres- ponde a um nó, que, por sua vez, recebe uma etiqueta que corresponde ao nome de sua categoria gramatical: SN cujo núcleo é o N (que vem precedido de um DET); SV cujo núcleo é o V; outro SN cujo núcleo é o N. Na parte final dos sintagmas, temos os nós terminais, que correspondem aos constituintes últimos da representação (os, alunos, leram, o, livro). A oração (O) também é um constituinte, porém, ele corresponde ao constituinte maior (a raiz da árvore), formado de dois constituintes imediatos: o SN e o SV. Por que são imediatos? Porque eles estão ligados diretamente, por meio dos “galhos/ramos”, ao constituinte O. Existe aí uma relação de dominância, onde O domina imediatamente SN e SV. Pela estrutura representada em 3, você deve notar que o SV gera, também, um constituinte imediato: o SN o livro. Nesse caso, esse sintagma, ao contrário do sintagma sujeito, que é filho do constituinte oracional, corresponde a um filho de SV. Você percebe que há uma relação direta entre o verbo e o constituinte objeto? Pois bem, essa relação não se observa entre o SV e o SN sujeito. Eles são “irmãos”, mas um não domina o outro, e vice versa. Quanto ao SN objeto, vale ressaltar que ele também é dominado por O; porém, não é uma dominância imediata. Observe que esse tipo de relação segue um caminho descendente: o constituinte mais alto domina os constituintes hierarquicamente inferiores. Mas, atenção! Para que um domine o outro, precisa existir uma sequência de ramos conexa entre o primeiro e os outros nós descendentes. Esse tipo de relação se observa entre O, SV e SN objeto, em 3. Quanto ao SN sujeito, embora se encontre numa posição estrutural mais alta que o SN objeto, ele não tem domínio algum sobre SV e SN objeto, pois não existe uma sequência de ramos entre eles. Aparentemente, podemos pensar que um sujeito, por estar antes do verbo, domina imediatamente um verbo. Não é verdade! Como você nota na estrutura acima, o SN sujeito domina imediatamente o seu núcleo e o determinante que o acompanha. O constituinte maior, O, é o que tem domínio sobre todos os outros constituintes. E aí? Achou difícil a representação em árvore? A primeira vista, parece complicado, abstrato. Mas não é! Ela nos permite visualizar as relações formais existentes entre os constituintes de uma sentença. Com ela, podemos perceber 164 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>
Sintaxe da Língua Portuguesa A organização e a constituição das sentenças: aprendendo a “plantar árvores” - Parte I claramente quais são os elementos gerados diretamente, ou não, por uma determinada categoria gramatical. Além disso, podemos visualizar formalmente quais constituintes precedem ou não um outro. Por meio desse tipo de representação, também podemos comprovar que as estruturas sentenciais não são muito diferentes uma das outras. Para entender isso, considere a sentença abaixo, bem como a sua representação correspondente: (4) As flores │ são │ lindas. SN SV SADJ Compare as estruturas em 3 e em 5. O que elas têm de di- ferentes? Em 3, o verbo gera como complemento um SN; em 5, um sintagma adjetival. As mesmas relações formais que se observam naquela estrutura também se observam nesta última. Portanto, a única diferença entre elas envolve o tipo de sintagma gerado pelo verbo. Vamos a outra sentença: (6) A mãe │ entregou │o brinquedo │ para │a criança. SN SV SN SP SN Pela quantidade de sintagmas, você deve pensar que 6 é diferente de 3, por exemplo. Afinal, conforme a descrição tradicional, em 6 temos um verbo bitransitivo, aquele que tem dois objetos (direto e indireto), e em 3, um verbo transitivo direto. Aliás, você sabe dizer qual é a razão para estes termos: direto e indireto? Com a representação em árvore, você entenderá bem. Veja 7: 165 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>