Letras Vernáculas - EAD - Uesc
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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />
adequada às situações concretas de uso de sua língua.<br />
Quer mais um exemplo? Vamos considerar as pro-<br />
priedades lexicais de um verbo (V) do tipo fechar. Um dos<br />
complementos (C) exigidos por tal verbo corresponde,<br />
grosso modo, a um objeto direto (por exemplo, a porta).<br />
Como é o verbo que exige, ele passa a ter, em relação ao<br />
complemento exigido, propriedades de dominância. Isso<br />
corresponde a um princípio. No entanto, as línguas põem<br />
à disposição de tal complemento duas possibilidades para<br />
se posicionar em relação àquele que o seleciona: antes<br />
(daí a ordem CV) ou depois do verbo (daí a ordem VC).<br />
Essas duas opções de posicionamento correspondem ao<br />
parâmetro denominado de direcionalidade. A criança, ao<br />
adquirir uma língua, poderá acionar o valor positivo ou<br />
negativo. Se ela estiver como input o português, o parâmetro<br />
escolhido será o positivo; logo, a ordem será como<br />
a que ilustra 13:<br />
(13) Feche a porta.<br />
Gramática Gerativa: fundamentos básicos de um modelo chamado de principios e parâmetros<br />
Por outro lado, se a criança for coreana, o valor<br />
do parâmetro a ser escolhido é o negativo. Nesse caso, a<br />
ordem será inversa a 13:<br />
(14) Moonul dadala.<br />
Porta fechar (BERLINCK et al. 2001, p. 215).<br />
Como você vê, a escolha por um ou outro valor<br />
do parâmetro é fixado pelas línguas particulares. Nessa<br />
perspectiva, são os parâmetros os responsáveis pelos fenômenos<br />
de variação e mudança linguísticas registradas<br />
entre as línguas e no interior delas. Conforme Chomsky,<br />
os parâmetros já são previstos pela GU. Assim como os<br />
princípios, eles fazem parte da bagagem genética do ser<br />
humano, que, à medida que vai sendo exposto a uma<br />
dada língua em particular (input), vai escolhendo e fixando,<br />
naturalmente, os valores positivos ou negativos. Desse<br />
modo, a criança não é mais vista como uma “pequena<br />
linguista”, que observa e analisa os dados de sua língua;<br />
passa a ser uma acionadora de valores positivos ou negativos<br />
que vão caracterizar a sua língua em particular<br />
(output).<br />
Sobre o parâmetro, vale destacar<br />
aqui as palavras de Baker (2001,<br />
apud GALVES; FERNANDES, 2006,<br />
p. 91-92):<br />
Um parâmetro é simplesmente<br />
um ponto de escolha<br />
na receita geral das línguas<br />
humanas. Um parâmetro é<br />
um ingrediente que pode ser<br />
acrescentado para fazer um<br />
tipo de língua, ou deixado<br />
de lado para fazer um outro<br />
tipo. Um parâmetro pode ser<br />
também um procedimento de<br />
combinação que pode ser feito<br />
de duas ou três maneiras<br />
para dar dois ou três tipos de<br />
línguas diferentes. Se você<br />
toma os ingredientes genéricos<br />
da linguagem, acrescenta<br />
o tempero B e chacoalha,<br />
você obtém o inglês. Se você<br />
toma os mesmos ingredientes<br />
básicos, mas em lugar do<br />
tempero B, você acrescenta o<br />
aditivo D e E e agita, você obtém<br />
o navajo. As línguas-I são<br />
receitas e os parâmetros, os<br />
poucos passos básicos nessas<br />
receitas onde as diferenças<br />
entre as línguas podem ser<br />
criadas.<br />
Interessante essa explicação, não<br />
é? Mas você saberia dizer o que<br />
é um ingrediente genérico? Pois<br />
bem, são os verbos, os nomes, as<br />
preposições, os adjetivos, os advérbios...<br />
Com essas categorias,<br />
geramos todas as sentenças das<br />
línguas. No entanto, para que elas<br />
sejam geradas, regras devem ser<br />
aplicadas aos ingredientes básicos.<br />
As regras são consideradas,<br />
portanto, parte da receita geral.<br />
115 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>