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Letras Vernáculas - EAD - Uesc

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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />

Sintaxe tradicional: problemas de ordem conceitual e estrutural - Parte I<br />

b. Pedro machucou o irmão.<br />

c. Doce de abóbora, João não gosta.<br />

d. Em Ilhéus choveu muito no mês passado.<br />

Pela descrição tradicional, o sujeito de 3a é “Maria”, de 3b é<br />

“Pedro”, de 3c é “João”, e em 3d não tem sujeito (trata-se de uma<br />

oração sem sujeito). No entanto, se você analisar detalhadamente a<br />

definição, verá que ela também não é consistente. Vejamos: em 3a,<br />

podemos afirmar que a oração veicula realmente uma declaração sobre<br />

“Maria”, e mais ninguém. Já, em 3b, podemos dizer que a oração<br />

declara algo tanto a respeito de “Pedro” quanto “do irmão”. A situação<br />

da definição se complica mais ainda quando você considera 3c e 3d.<br />

Como podemos afirmar que, em 3c, temos uma declaração a respeito<br />

de “João” e não acerca do “doce de abóbora”? Como podemos assegurar<br />

que, em 3d, temos uma oração sem sujeito se a oração veicula,<br />

de fato, uma declaração a respeito de “Ilhéus”?<br />

O que você deve perceber, aqui, é que há uma contradição<br />

bastante clara entre a definição apresentada pelas gramáticas e os<br />

dados concretos da língua. A propósito disso, Perini (1993, p. 16)<br />

afirma:<br />

Tais contradições são, em geral, toleradas, e mesmo<br />

ignoradas, por aqueles que trabalham com a GT. A<br />

razão para isso é, a meu ver, a seguinte: existe na<br />

verdade uma dualidade de doutrinas gramaticais<br />

dentro do que chamamos gramática tradicional.<br />

Uma dessas doutrinas está expressa, mais ou<br />

menos, nas gramáticas usuais. Essa doutrina (a<br />

que podemos chamar ‘doutrina explícita’ (...)) (...)<br />

conceitua o sujeito como o termo sobre o qual se faz<br />

uma declaração. Sabemos, porém, que as mesmas<br />

pessoas que propõem ou aceitam tais definições não<br />

as seguem na prática (...).<br />

Na visão desse autor, há, portanto, dois tipos de doutrina:<br />

uma explícita (a que encontramos em nossas gramáticas tradicionais)<br />

e uma implícita (que corresponde de fato aos usos reais que os falantes<br />

fazem da língua). Na verdade, a noção preconizada sobre o sujeito<br />

não é nem unificada nem consistente. Segundo o autor, a grande<br />

falha da doutrina explícita é “a ausência de conscientização adequada<br />

do importe teórico das afirmações que constituem a gramática” (p.<br />

13).<br />

Vale ressaltar que esse argumento do autor não se aplica apenas<br />

à questão do sujeito, mas a qualquer categoria gramatical. Para<br />

perceber isso, basta analisar atentamente as definições e as senten-<br />

61 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>

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