Letras Vernáculas - EAD - Uesc
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Sintaxe da Língua Portuguesa<br />
Classes e Funções<br />
(“João” e “onça”) em relação ao verbo é determinante<br />
para a identificação das funções sintáticas: numa, “João”<br />
é o sujeito; na outra, é objeto. Também pode dizer que o<br />
sujeito estabelece uma relação de concordância com “matou”.<br />
A prova é que, se você substituir “João” por “eles”,<br />
terá que alterar a forma do verbo (eles mataram a onça).<br />
Observe que definimos o sujeito em termos puramente<br />
formais, e não a partir de uma noção semântica,<br />
tais como: “ser que pratica ou sofre ação”; “elemento do<br />
qual se declara alguma coisa”.<br />
É claro que, em 6a, você sabe que quem pratica a<br />
ação de “matar” é “João”, e em 6b, “a onça”. No entanto,<br />
saiba que nem sempre o sujeito (que tem uma relação<br />
formal com o verbo) pratica ação, como você pode perceber<br />
nos exemplos abaixo:<br />
(7) a. João apanhou da Maria.<br />
b. João é muito gordo.<br />
c. João mora em Ilhéus.<br />
Em 7a, “João”, embora seja o sujeito, não é o agente da ação,<br />
afinal, quem bate é “Maria”. Em 7b, por sua vez, não há ação nenhuma,<br />
e, no entanto, temos um sujeito presente: “João”. Em 7c,<br />
também não podemos afirmar que “João” pratica ação. Percebeu que<br />
nem sempre é possível correlacionar significado com função sintática?<br />
Conforme Perini (2006, p. 107),<br />
(...) é necessário separar sempre bem nitidamente<br />
esses dois tipos de função. ‘Sujeito’ é uma função<br />
formal, e tem a ver com a ordem das palavras e com<br />
a concordância; ‘agente’ é uma função semântica, e<br />
tem a ver com o papel que um ser desempenha dentro<br />
do evento descrito por uma sentença. ‘Sujeito’<br />
é uma das funções que podem ser desempenhadas<br />
por um sintagma nominal; ‘agente’ é um papel desempenhado<br />
por uma pessoa, um animal etc.<br />
O que o autor sinaliza é que, dependendo do objetivo, aspectos<br />
de natureza formal devam ser separados de aspectos de natureza<br />
semântica. Esse tipo de separação se justifica, por exemplo, quando<br />
se tem em vista advérbios como sim e não. Veja as suas ocorrências<br />
a seguir:<br />
Quando um falante pronuncia<br />
uma frase, do tipo “Maria gosta de<br />
doce”, ele tem plena consciência<br />
do potencial funcional das palavras.<br />
Ele sabe, por exemplo, que<br />
“Maria” é o nome de uma pessoa, e<br />
sabe que essa palavra pode ocupar<br />
determinados lugares na sentença,<br />
ou seja, quais são as funções que<br />
“Maria” pode desempenhar – “não<br />
a função que está desempenhando<br />
no momento, mas a função ou<br />
funções que ‘pode’ desempenhar”<br />
(PERINI, 2006, p. 138). Veja, por<br />
exemplo, outras situações em que<br />
“Maria” pode ocorrer: João gosta<br />
de Maria; o filho de Maria passou<br />
no vestibular; Maria, ela é muito<br />
inteligente; João deu o livro para<br />
Maria... Muda-se o contexto estrutural,<br />
muda-se a função. Isso é<br />
fato!<br />
45 Módulo 4 I Volume 2 <strong>EAD</strong>